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Das desgraças do silêncio

Isabelle, que amava, permitiu todos os sinais Preparou o café da manhã e foi trabalhar No horário do almoço comprou-lhe roupas À janta, levou flores e pôs num vaso ornamentado. Borges comeu porque sentiu fome Vestiu-se porque sentiu frio E achou que a casa ganhou um aspecto campestre. Dela ouviu-se um estampido e um choro E foi para o túmulo sem saber e sem ouvir.

Bibliografia do Olhar

Caia nas profundezas da poça d'água No mais fundo do lago Vire à esquerda Nade duas braçadas pare respire pense mais forte repare pire não há ordem o mundo lá fora palavra escrita solta o som preso o corpo preso a alma presa Ali está o coração

Rock in que?

O Rock in Rio está bem por aí, impossível deixar de notar, por mais que queiramos fugir do parasitismo das novidades, eles nos perseguem sejam em forma de notícias virtuais, sejam em forma de pessoas. Quanto a este problema não há muito o que se possa fazer, o complexo de Aldous Huxley da sociedade inevitável que nos perseguirá até o momento em que nos enforquemos no mais alto toco da nossa toca recôndita nas profundezas da mais densa e inabitável mata como símbolo (e talvez única opção) para libertação, ele existe. Fazer o que? Bem, fazer o que? Eu passei os últimos dois ou três anos debruçado nessa pergunta. Fazer o que? Pensar, talvez. E às vezes pensando eu me deparo com umas coisas que não consigo deixar passar batido. Detesto incoerência de discurso. Tomar partido é perigoso por causa disso, você será sempre escravo das suas próprias palavras. Eles quem queiram, não? Li um dia desses umas notícias reclamando que o Rock In Rio estava Pop demais, ou até mesmo, Axé demais p

Conscio Subciente

Borges namorou Isabelle Foram felizes como puderam Se amavam toda semana Depois saíam para jantar Entre eles havia sempre uma mesa Depois jantavam toda a semana E saíam para se amar Entre eles havia sempre uma mesa Depois saíam toda a semana E se juntavam para jantar Entre eles havia sempre uma mesa Até que a mesa e nada mais era pequeno o bastante para darem as mãos Vinte anos depois e de vida feita Borges falou Você não mudou nada Isabelle chorou até não poder mais morrer.

Viva diferença

Vindo todo o dia Pela mesma alameda Vendo o mesmo chão O mesmo entulho no mesmo lugar A mesma comadre contando das mesmas pessoas E as mesmas pessoas Diferentemente como umas as outras E essa mesma parede azul Chata, calma, tranquila, beirando o inferno imutável do tédio De bocejo em bocejo eu penso uma faísca de desejo: Essa parede podia ser laranja, só por um segundo.

O inútil

Casa de Pedra Livro de Papel Cadeira de Madeira Artilharia de Quartel O livro prescrito da medicina mundial Caguei-o e mandei-o para os diabos disse o viajante sem pernas Casa de Papel Livro de Madeira Cadeira de Quartel Quinquilharia de Pedra Depois disso cansou E resolveu que sentaria no céu e deitaria no mar. O viajante não sou eu.

Folha de árvore e de jornal

Sebastian Wissenmann sabia do Brasil por janelas Através dos livros e das teorias Pelas revistas e pelas opiniões jornalísticas Queda econômica Desastre urbano Informação endêmica Insatisfação diária Poluição acadêmica. Pro Tião Sabichão o Brasil era a mangueira Debaixo de que aprendeu a namorar E por causa sabia bem mais.