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A Mula

Caminha aí, mula do peregrino Nasceu só e morrerá só, comendo sua própria carcaça Enquanto morre, remoerá sua própria morte - Comi capim demais na vida - Fiquei tempo demais de quatro quando deveria ter-me deitado - Fiquei acorrentado demais E saberá com ódio que dali a uma semana deixará de ser alguém E só existirá enquanto outros existirem - Soube da mula? Bateu as patas. E quem te lembrará alguém como não foi Sabendo que teu ser só a ti será? - Tão boa... - Tão má! - Me devias - Me pagava - Me fazia. Uma mula serve apenas para ser mula E sabe como ser mula E anda como mula, senta-se como mula, sente-se como E ali que vemos a mula e sabemos quão mula é E sem que haja a dúvida ainda perguntamos - És mesmo uma mula?

Quem é

Teimas em me ignorar Fantasma do vão retorno Nada traz consigo senão adventos de desgraça Obsessão e sandice das cavernas mais fundas da mente E do coração Teimar em sentir o que sentes e adias tua vida Teimas em ignorar teus passos passados e não sentir dor Não existe água ou benção que cure esta semana Não há verdades que não destruam boas intenções A boa coisa, firmada em sofrimento É ingênua demais O mundo é a passagem larga Estreito é o coração A casa de doações dilui-se E no lugar não existirá nada Acostuma-te com nada para sorver-lhe as enfermidades de alma E de espírito Os morcegos apinham-se sem explicação.

Depois

Desde o choro ao sublime riso Tudo está aqui Quem nasce pega dessa cidade continuada Cidade dos adiamentos A conclusão é estado de fé: Para quem a fé é alucidez É fim. Adie sentimentos Tristezas fiquem pra depois Crueza de amor, depois Incerteza, não é sentimento, é sentido Depois Versos pela metade depois Coisas sem conclusão

Cálice

Esta canção tem suas raízes históricas na repressão da ditadura em relação à liberdade de expressão, como muitos sabem, a proibição de poder manifestar o seu pensamento livremente. Penso que quando observo a sociedade atual, percebo que muitas coisas não mudaram, apenas foram mal disfarçadas. Fazem nosso povo acreditar em uma falsa autonomia de pensamento, e provavelmente a maioria não se sente reprimida porque sabe que pode dizer o que pensa, e por tal razão, muitos acreditam que a liberdade de expressão realmente acontece. Isso seria válido afirmar se o que a maioria da sociedade pensa e expressa fosse digno de atenção. É claro que o que se vê é unicamente a manifestação da futilidade, de observações pequenas a respeito de um cotidiano limitado e que só faz sentido para quem se manifesta. Além do que, parece completamente proibido alguém se levantar e tentar trazer clareza a algum assunto polêmico, os mesmos assuntos que são tratados com tão pouco caso e respeito nos meios de c

Versos Além

Jamais farei crer que o vento é certo Se jamais seu sopro estiver por perto. Ou talvez jamais saberia se há mar Caso em mar jamais viria chegar. Seria a chama algo quente Se não ardesse aqui na gente? Enquanto não sabemos do mundo O mundo não há E somos surdos e cegos. Porém jamais nos damos ao prazer De emudecer a nossa voz E a nossa voz calar. Como sabe o surdo o som da gaivota Que vai embora pro horizonte E vai levando para longe A nossa vontade de ir também? Para o cego o vermelho é a idéia Que se faz do sangue que corre Nas veias da sua própria pele Quando crê nas palavras De seu fiel cão guia. Ao contrário ele riria Ou crê agora , ou agora cria. O que jamais haverá Será o que jamais vi Mas tudo o que está já é E será sem eu existir.

Zeta

Nestes anos intensos De pura civilização Sobra-nos palavras para dizer Mas falta-nos informação. Nestes anos incríveis De homens que voam ao céu Ou que dormem no chão Falta-nos claramente a visão. Nestes anos escuros Cuja externa é claridade Não sinto que tenho luz Sinto uma densa obrigação. Nestes anos tão móveis Onde a vida que é tão longa Se passa num breve relampeio Os homens que andam imóveis estão.