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Envelhece a Cidade

Frio, muito frio nas ruas Um cinza e um laranja amarelado mancham o chão Frio, muito frio e ninguém. Mas algumas pessoa vagueiam Motocicletas passam errantes Frio muito frio. Lastro de pensamento Quem me beija quem me quer Beija me mal me quem Mas não era nada enfim. Errante como uma condenação Segue mais pesado que tudo Mais pesado que a mão Mais frio que o coração. Frio e suor e um cheiro humano Tentaram-te um abraço Um perfume novo e temporário E aquele sorriso piedoso O coração até se aquece, mas passa. Motocicletas passam errantes.

Espírito do Tempo

Dorme meu filho, dorme O jornal está sobre a mesa E sobre o banco E sobre a casa Sobre o chão da rua Sobre a feira livre Sobre a avenida dos partidos de esquerda E sobre as mansões dos indiferentes. Nuvem, penumbra cinza, cheiro de queimado Esta é a imagem. Mordo uma maçã, sinto gosto de batatas Mãos sobre a mesa Pode ser a casa do meu bem Ou a casa dos meus pais Pode ser o céu ou o inferno Tanto faz. Ao chegar em casa, uma poça de sangue jazia anônima: - Limpe os pés antes de entrar! Morre-se de sede Mas ninguém volta atrás, Ninguém volta atrás. Ninguém volta.

Legião Urbana: Somos Tão Jovens

Acabei de assistir ao filme Somos tão Jovens, que retrata a adolescência do falecido cantor Renato Russo e o embrião da Legião Urbana. Nunca fui um fã de Legião Urbana. Gosto da música, gosto do Renato e da importância que ele teve, mas não sinto isso na mesma escala em que a maioria de seus verdadeiros fãs o sentem, por isso me sinto meio a salvo pra falar bem dele, já que nunca fui fanático pelo cara, apenas um admirador distante. Em se tratando de música, Legião sempre é um assunto polêmico. Muitas pessoas não conseguem compreender a razão do impacto do grupo na música brasileira, provavelmente porque não conhece. Aliás, desconhecimento geralmente leva à incompreensão, e logo, a preconceitos. Há pessoas que realmente acreditam que se trata de uma insistência de emplacar uma coisa por falta de coisa melhor, mas eu penso que Legião Urbana, para sua época, foi uma banda necessária, e o legado e importância bandas não poderiam ser manchados ou esquecidos, em outras palavras, gostem

Poema de Três Acordes

Desperta o som antes do dia Desperta a rainha. O cheiro vai andando pela casa Café fresco e pão fresco Dia duro Os sonhos vão ficando no travesseiro E uma força insistente espera, ao lado da cama. Dia duro Tristeza... fica do lado de fora.

Migração

Caminhando Ando E ando. Tanta flor diferente Tanto jardim igual Vê-se de todo muro Vê-se de toda cor O mesmo suspiro velho E os mesmos ônibus cheios De espíritos vazios A mesma garagem o mesmo quintal. Pôr-do-sol Igual em todo lugar Diferente em todo olhar O olhar voa... Ê saudade...

Não-futuro

Viagem à terra sagrada de Xaltocan - Chegamos em Buenos Aires! Olha o mar... - Cordilheira dos Andes! Olha o mar... - Miraflores! Olha o mar... - Montserrat! - La Capilla del Hombre! - Canal do Panamá! - Cidade do México! O mar... Jamais conseguimos partir daqui.

A Chave

Catedral da minha vida Nébula ulular distante O ditame da insegurança A ditadura da incerteza Bato à porta e aguardo a pergunta: nada soa Bato à porta e aguardo a segunda nada evola Bato mais forte e o coração agita Esvaece um perfume augure E só retorna, reboa Alguém aí? A porta abre, ouço passos adiante A cada passo meu, um passo atlante Ouço um passo retornante Alguém lá, além Ou eu aqui, avante? A chave jaz ilesa entre o invisível
A música é a última coisa que pode fazer um homem desolado na vastidão de sua miséria sorrir novamente. A música é a última coisa que pode denunciar se ainda nos resta algum vestígio de humanidade. A música é a última coisa que pode nos restabelecer sem pedir licença.

Há mar gura

Um coração ferido soa Como o canto melancólico no oceano Ecoa de dentro em adiante De dia em mês, de ano em ano Basta visitá-lo de passagem Quando a gente para pra escutar Como quem é arrebatado Escuta só: Ouve essa melodia distante e maldita Alguém ainda lamenta sem motivo lógico E há tristeza, mágoa, angústia e ódio É algum espírito desamparado Que às vezes vagueia solitário E pede compaixão e liberdade. E como se curar desta maldade? Como fazer com um suspiro final Enxugando a última lágrima que destrói O mais orgulhoso dos homens Esquecer dos verdes bons anos? Não houve toque debaixo d'árvore Ou bonsai que sobrevivesse Não houve música que tocasse E pudesse deixar que caísse Sem que o espectro durasse Sob essa energia esquisita. E para onde quer que o olhar relance Num vácuo de memória lá estará Aquela imagem distorcida e tão antiga, e tão doída. E uma pergunta sem sentido Por que ali reside? Tudo por uma atitude sadia Crendo na bondade dos