Pular para o conteúdo principal

Postagens

Rosa Proibida

 Nasceu uma linda Rosa no meu jardim O meu jardim é cheio de cravos e espinhos No seu profundo jaz a Madre Pérola A Rosa pintou os Cravos com as cores confusas Mas a Rosa não fez nada...  Foi o Jardineiro astigmático e míope.

Doce Mentira

 Meu Deus, meu santo Cristo. Como eu queria Ah! Como eu gostaria de saber mentir. As doces mentiras da convivência, das juventudes alheias. Como eu gostaria de ver as flores dessa vida. Mas eu só falo a verdade Eu só vejo a verdade Eu ouço a verdade de ouvidos feridos A poesia da vida é uma gota d'água num mar tempestuoso Nada como um dia após o outro Eu suspiro - É nada como um dia após o outro... Meu mar de rosas não tem pétalas. Só espinhos e sangue.

Eis a Estrela (Para Manuel Bandeira)

Flagraram a Estrela na plenitude de sua humilhação.  Com um assaltante e um assassino Encontrava-se fatigada e ofegante Mas que importa? Acharam a Estrela! O delegado austero, fardado Com o papel constituinte e todo o rigor de sua lei nas mãos Bateu, gritou, xingou, cuspiu e prendeu os dois homens. A Estrela Fatigada e docemente delicada Limpou-se na farda policial Arrumou-se e foi ter com outro cliente. Mas que importa? Acharam a estrela da manhã!

Ecos do Menino

Um menino de 12 anos que nasceu preso no túnel. Caminhou errante, dando pequenos passos pelo complexo                     [túnel comprido. Ele tinha medo e tinha frios. Um menino de 12 anos. Num ato de loucura chorou: Socorro! ...Corro... ...Corro...   ...Corro... O choro não atingiu alma nem coração Apenas paredes de mármore frias. O menino nasceu preso no túnel comprido. A resposta que veio, que matou o último suspiro Do menino de 12 anos O grito que parecia ruídos estranhos. Masmorra! ...morra... ...morra... ...morra... Fechou os olhos e sentiu sua mente se diluir. Abriu novamente e notou que o túnel não tinha fim. O túnel... ele não tinha fim.

Fluxo Contínuo

 O que para mim sempre foi típico foi o questionamento. Vazio ou consistente, o questionamento sempre tem um sabor incômodo. Nos primeiros poemas isso era um hábito, tanto mais quanto uma necessidade, até o dia em que parei de tentar ser poeta e passei a ser poeta. Até este dia chegar, muitas coisas aconteceram. Dentre as maiores bobagens de imaginar que um poeta precisa de algum tipo de formação acadêmica, até pensar que a poesia era algo sagrado e intocável, acessível apenas às pessoas mais célebres. Enfim, isso é uma outra história. O poema a seguir tem um tom de crítica adolescente. É uma crítica de quando nós sabemos que algo está errado, mas ainda não sabemos dizer o que é. E a meu ver, o que estava errado era esta coisa de todo mundo querer seguir o mesmo caminho, como se cada vez mais as sociedades estivessem se afunilando numa única maneira de viver a vida, e a rejeição, proibição, exclusão, e porque não dizer, prisão e exclusão daqueles que optam, ou tentam, querer viver uma

A Vida Segundo Brás Cubas

Morri! Não tive filhos. Não me casei com Virgília, nem com Marcela, nem com ninguém. Adoeci! Gastei meus dias com dinheiro. Tive amantes. Vivi minha vida. Fui maldito, miserável. Não me casei com ninguém. Formei-me em Direito. Formei-me em Medicina. Formei-me em tudo. Não me casei com ninguém. Quis todos os emplastos, mas não tive nenhum, não gozei de nenhum. Não me casei com ninguém. Fui Jovem Peralta Adolescente Traquinas Criança Nasci. E eis que aí, tudo se terminou.

O Escárnio da Morte

Aqui estou! Sobre teu leito de morte, a indesejada da tua vida. Aqui estou Dura como teu coração onde a glória fora unção. Chama-a! Veja se impede Que o verme sacie tua fome Fome, não. Mas o desejo daquele verme da terra. Apago essa luz, Apago aquela  E a de toda humanidade. E a paz reinará na terra, nos céus e no inferno.

O Cemitério dos Poetas

Luiz Vaz de Camões escreveu Oswald de Andrade escreveu Fernando Pessoa, escreveram Machado de Assis, Álvares de Azevedo, Manuel Bandeira e Drummond Também escreveram Mas Camões está morto Oswald está morto Pessoa, morto Machado de Assis, Álvares de Azevedo, Manuel Bandeira e Drummond. Todos eles estão mortos e enterrados. E o coveiro onde está? Foi assistir TV. 24/04/2003

Tenho um só motivo para escrever

Tenho um só motivo para escrever Tenho um motivo só para escrever Tenho um motivo para escrever só Escrever tenho um só motivo para Para escrever tenho um só motivo Motivo para escrever tenho um só Só motivo para escrever tenho um Um só motivo para escrever tenho Tenho um só motivo para escrever Só tenho um motivo para escrever Escrever só para um motivo tenho Motivo para um escrever tenho só Um tenho para só escrever motivo