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Humano/Desumano

 Humano Quero imaginar uma vida sem marcas Onde eu não precise comprar a alegria Pagar a felicidade E financiar a tristeza Onde o bem estar venha numa brisa E não encaixotada e de presilha Quero me lavar nas águas límpidas da verdade E arrancar a casca e o pus Das feridas em liqüidação. Às carcassas fétidas e mentirosas A essas quero dizer não! ---------------------------------------------- Desumano* Se no mundo não houvesse nenhuma marca Não haveria também a diferença Se há alguém que criou isso É porque há quem compre e quem venda. O bem estar vem de uma brisa de onde for Apenas precisamos desprendê-la A verdade está nos olhos de quem vê E na busca que cada um faz da sua vida Na real, não existem as feridas. Se o mal e a mentira não existissem Ninguém sentiria falta da verdade Lola Marin *Desumano é o poema resposta que a Angélica, minha colega de classe (pseudônimo de Lola Marin), escreveu espontâneamente assim que leu o meu texto. Achei extremamente criativo e é como se tivesse sid

Dança arritmada num domingo à tarde

I - Escolhi meu par e fui dançar Quando fechei os olhos e pra longe Dancei na minha confusa ilusão, Um anjo bom e puro, não sei onde Abraçou-me a espantar a solidão. O anjo não tem sexo O anjo não tem cor. A cor provém da alma de sexo pecador. E dos lábios, proferidas com ardor, Como vento aos ouvidos sussurava Palavras de suave e belo amor. - É  um dom! - eu, que quase acreditava. II - A Dança avançava deixando-me em transe: E como se dentro do aconchego Do ventre materno refugiada As palavras guiavam-me ao eterno, Ao eterno criador desta morada. O Deus que não tem sexo O Deus que não tem cor. A cor e sexo vêm Do Diabo pecador. E agora em idéia impossível Perdi do início e o fim a compreensão. Se era homem ou mulher, já não sei não. Pois já nem via mais o que é cabível. Porém... III - O Acordeon perde o ritmo: Num estalo de um céu que relampeja Vi a clara realidade nua e crua. Vi o homem que vinha de bandeja Vendendo simples doces pela rua. E

Verde

 Vestiu-se de verde Veio até mim Faltou-me o sangue E o ar. Feriu com a espada Do veneno da verdade Curou-me depois Com o milagre da bondade. Andei sobre a tábua Aquela, fina demais. Caí inúmeras vezes E sua mão eu segurei. Pensei muitas vezes em chegar sozinho Mas onde? Se não sei, não quero saber sem você Pois quero descobrir no final Carregando-te no colo Por enquanto hoje, humildemente O que carrego no coração.

Poema De Repente

O poema agora Não pode ser feito Ele se faz sozinho Nas nossas retinas mudas E na nossa garganta seca Na nossa palma lisa E cara marruda. O poema agora  É sempre E antes e depois Não só agora Mas muda de hora em hora e tapa na cara O hipo credo Da crise crisia É tapa na cara A hipocrisia. O poema agora É flor e jardim Que nasce sem demora Do sorriso que chora De alegria demora De tristeza agora Que muda de hora em hora De muda de rosa em rosa. O poema agora É mão enxada É calejada É passo curto Da aleijada O coração Da degelada. O poema nasce agora E sem demora a sua rima Como virgem amando deflora Homem que veio de fora. O poema não é de ouro É de folha de guardanapo E sai cheirando a gordura Sai querendo fartura Fartura que nunca chega Fartura que só na promessa Na folha de seda vem Com cheiro de perfume europeu Mas vira cinza e amarela Não o poema A folha da promessa de seda Que alimenta o olho magrela. O poema é vermelho É vermelho e é como rosa Amarelo da anemia. O amor pela batal

Meu Verso é Minha

Meu verso é o espelho Dessa alma rouca Não é espelho de velho É espelho de louca. Meu verso é doença É esparsa demência Meu verso é desgraça É eterna indulgência. Meu verso é desgraça Do berço suave À vida mormaça Orquestras e Clave Orquestra de graves E suaves agudos De graves entraves De amores mudos. Meu verso é demência Meu verso é Entrave Meu verso é fineza De tristeza grave. Meu verso é triteza É falsa beleza É desgraça falsa É alma descalça. Sou verso do avesso Sou verso do osso Sou beça do poço Sou oca no moço. Meu verso é ter tudo E não enxergar nada. Meu verso é ver mudo É ser namorada. Meu verso é o verso Meu verso é o avesso Meu avesso é verso Da vida que averso. Meu verso é o avesso Da vida suave Meu verso é o avesso De amores graves. Meu verso é o desejo De não ser mais versa. Meu verso é o desejo Do amor suave.

Malrboro

02h00 A.M. - Toma aqui: acende... Está aceso e a chama o consome. Bem pouquinho, vai indo. O vento bate no meu rosto e eu não sinto nada. Estou dormente, morta, só esqueceram de me pôr num caixão. Vai consumindo, aos poucos, aos poucos... Entra a toxina, sai a fumaça branca, pura... sopro um pouco da minha alma em cada vez. Você acaba de consumir mais de 4000 toxinas diferentes, não há instruções de consumo seguro para este produto. Tomei aqui, acendi. Ei demônio! Demônio está aí? Eu sinto que tem um demônio aí fora me rondando e me roubando de mim mesma. É o demônio de fora? Ou o demônio de dentro? Quem é você demônio? Já foi? - Então toma, acende outro. Fshhhh faz o barulho que queima. Consome outro, que logo acaba, aos poucos, aos pouquinhos... É só uma picadinha moça, só uma. Doeu? Doeu. Quero flertar com o anjo bom pra ele preencher minha alma. Deus, Deus! Ajuda a menina que está aqui! Vou ligar para a Lídia. Não... Vou ligar para papai. Não, melhor a mamãe...

Oração à Hlin

Quem pisar no assoalho Através das minhas portas Com andar de quebrar galhos No chão encontrarão mortas As lágrimas derramadas Por olhos secos e falhos Ambas mãos tão gordurentas Tolas. Força fria e pálida. Tão amargas e nojentas, Falsa impressão doce e cálida. Faces vultas macilentas, Lábios murchos língua árida. Na aurora sempre bebo Do mais puro e nobre vinho. No crepúsculo o medo Do incógnito vizinho O fantasma que com o dedo Mi’alma rouba de pouquinho. E aqui permaneço indene, Pr’aquele próximo, esperando, De alma grande e solene Que em seus braços carregando Minha lágrima perene Para os céus irá levando. E no inferno permaneço No chão frio do assoalho Que adormeço, que mereço! Que explodindo entre galhos. Desta vida do avesso De olhos secos e falhos.

Desacostumado

Estou habituado às alegrias complexas: Um olhar de verdade Um toque de verdade Uma voz de verdade. Trocar a noite pelo dia... Não, não. Não é do meu feitio. Encarar a face magenta da multidão E descobrir pacientemente ali no meio Alguma perebazinha digna de nota. Pular de praia em praia Correr de braços abertos E cantar a liberdade (Com notas desafinadas) Abraçar a espuma corrosiva da água do mar Cheirando a enxofre e peixe morimbundo. Rir para o nada Pois o nada é mais engraçado Fazer nada Pois fazer nada, é mais confortável. Não estou habituado A não sofrer como os desgraçados Que se embebedam de livros e idéias E não conseguem debater alguma Pois a música é muito alta E os ouvidos são muito surdos. Só estou habituado à voz Que em silêncio sagrado atinge Os tímpanos da alma doente Que lamenta ao fantasma impassível Aquele que com apenas um dedo Amargura o espírito inquieto. À voz que me tange de água fresca E me faz pensar por hora Que sou imortal.

Maia

 Não Eu não te quero conhecer Pois o medo que tenho De que tua aura angelical Seja desfeita e infectada Pela vil nossa imperfeição palatal É tão grande ou mais Que padecer diante de uma doença mortal E antes prefiro morrer com a pureza de tua imagem Do que viver a vida em angústia realidade. Não Não te quero conhecer.