Pular para o conteúdo principal

Postagens

Condenação

Não adianta ornar com rosas Com tulipas e querubins Nem cravos de pétalas rugosas E menos azaléias vistosas A árvore que já se condena. Seus galhos retorcidos assim permanecerão Recurvada sobre a própria sombra Com a copa estarrecida e faminta De folhas secas acinzentadas. Não há o que lhe tire da situação Uma vez que a raiz caiu no solo E já atinge as profundezas do inferno Aquecendo-se vacilante Neste eterno inverno.

Taças

Ninguém se atreve a retirar da mesa O jogo de taças que ali se apresenta. Um toque descuidado E toda aquela vida cristalina se despedaça. Por isso que, Ninguém se atreve a retirar da mesa Aquele frágil jogo de taças, que ali se apresenta.

Ortotanásia

Foi quando veio a academia Que anunciaram a morte da poesia. Juntaram uma pilha de institutos Calcaram-na de pó para produto. Podia eu falar da beleza da noite Ou da tristeza dos dias Mas com mote teimo em dizer Da infeliz morte da poesia. O homem inventou a roda O Fogo As cidades As ventanias  As tempestades O riso e o pranto mudos Inventou o homem surdo E as notícias turronas. E enfim por não ter mais que inventar Inventou a si mesmo. Tudo isso está escrito Na tábua sábia da academia. Mas antes disso tudo Antes da primeira aurora E depois do último crespúsculo Já ela vivia livre A nobre poesia. Encarcerada pois ela está Sob o peso de muitos ministros Com quantos outros mil doutores Vive ela vã em suas dores, Vomitando feito registros. E o mestre sábio da pena teimosa Vive com ela tão cheio de glosa Mas mais que a dor tão pretensiosa Vive ela, pobre poesia, toda chorosa. Já não a sente quem não a vê Empilhad

A Praia

Dona Josefa na cadeira da praia Busca o vazio no imenso horizonte Onde a linha jamais se acha, se esconde. Qual praia? Não existe praia A praia é só um refúgio. Dona Josefa na praia que ninguém entende. Os mistérios do imenso horizonte Não são menos do que está na mente Do que ao invés de teto vê praia, E paira.

Jardineiro Infiel

E ali está. Pende para um lado com o vento que bate, Murcha, quase morta, seca como a terra, Áspera como a mão idosa do sábio, Que não sabe de nada. Ali está Na espera Na demora Na lentidão das horas (Que nunca passam). Um jardineiro infiel Plantou a semente com tanta precisão Cavou fundo fundo, com cuidados expressos E fugiu para não viver mais sua solidão, Partiu em dois sua visão. Ali está, Pende para um lado e para o outro Largada com desprezo insólito Para o vento que bate e nunca cessa. A flor tratada com pressa. Que não sabe se morre Que não sabe se espera. E enquanto espera, escorre...

kamal ka phool

 De tanto quanto quero nesta vida Eu busco pouca coisa em pouco escopo Família, nada, amor nenhum, amizade pouco Na confusa vida, evito solenidades Eu não busco beleza, busco verdades.

Vida Completa

Na rua direita do meu bairro humilde Nasceu um pequeno bebê O choro do nascimento foi um estrondo Escutado em todos os extremos, Do bairro Sentiu fome e foi amamentado Sentiu frio e foi aquecido Sentiu sono e dormiu. Cerrou os olhos pequenos E nunca mais abriu Simples assim.

Carpe Diem Mon Amis

Quando a mãe cobriu o rosto com as mãos Caiu a primeira lágrima de muitas E abriu no peito um buraco que não fecha mais Você pisou na rua jovem. É sempre assim com os artistas: O opulento tem à disposição mil arco-íris. Mas você faz mais do mundo com apenas preto e branco O seu sorriso preto e branco O meu amor preto e branco Como nos primeiros jornais. E mal mal, você não sabe Que sempre que você pisa na rua, Seus pés geminam e plantam. E vão abrir, querendo ou não, Um buraco que não fecha mais. E deixam ali, querendo ou não, a mensagem: "Aqui estive e agora estou em paz", Até a planta criar folhagem.