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Salgueiro

Há a maior alegria em minha paz Quando uma folhinha despenca Do mais alto galho Do salgueiro tranquilo e audaz. Cai em minha mão  E a minha vida se resume num ímpeto sutil. Um sorriso apenas, sem brio Um palpitar de coração apenas E uma respiração apenas, sem frio. De resto A vida torna a seu curso maior Por ter em mãos a simplicidade plena O lago acalma, o vento para, a planta amena Acena.

Tsemaya Sentle Imaan

Abrem-se os finos céus Olimpos ou Paraísos Enquanto os deuses choram. Um caminho negro e vivo Arrasta-se nas alamedas Enquanto as Deusas oram. Pés exaustos, resvalados Caminham pensando a sorte. É uma marcha de dor É uma marcha de morte. Confunde-se a pungente dor Com a alma de sua cor. Trazem nela as marcas da história Dos infinitos açoites Dos buracos de fome Dos dias de eterna noite Das infinitas mortes sem nome. A morte aqui é branca Negra é a viva alma Caminha na sua sorte Uma marcha de dor Uma marcha de morte Uma mancha, um corte. Os céus se abrem Não no dia claro Não na porta luzidia! Caminham na sua sorte No mais lúgubre do dia! A cada passo caminhado Sorve o sofrimento De um anjo que é contemplado. E neste duro firmamento É eternamente esquecido Mas eu cravo com brio A ponta firme de minha dor! Tsamaya Sentle Imaan! Tsamaya Sentle Imaan! Vá e leve contigo Um pedaço do meu amor! Um anjo bom é esquecido Não canonizado Um anjo puro,

Eu, Criador de Mim Mesmo

Não planto árvores sobre a terra Pois a terra me rejeita Minha terra é o rio corrente Rebelde e indolente Triste e Solitário Rio jocoso e salafrário De águas venenosas e duvidosas E ali um galho que nasce Frenético e triste desfalece No primeiro cotovelo De seu curso fácil Mas no rio Tudo o que há é meu As palavras Os sons A temperatura das salas A largura das alas Os critérios alfandegários As burocracias portuárias Os portos de ancoradouro Os recifes que encalhei (Sim, há recifes no meu rio) As sacadas de serenatas Os feiches luares de prata São meus os risos das meninas E o ódio por mim mesmo. Só não me pertecem as árvores. Em terra que só consome Não crescem árvores. Não planto árvores em terra firme A terra que tenho é terra de açude De lamaçal De manguezal Terra movediça e suja Sem ânimo ou vitamina Sem brisa fresca Sem água de rio (Rio seco cheio de recifes). Saudades eu sinto Da árvore lá de

Desengano

Eu abro as cortinas pra falar do seu estilo Esguio o olhar nas guisas e nos contornos De um olhar preciso de atenção. Ouça atentamente a voz da minha lição Não sou profeta do passado e nem poeta do futuro Eu lanço minhas palavras assim, no escuro. Mas se eu raspo a tua alma e te desnudo Eu vejo como é capa de revista. Revista e não encontre nada! Alma desvendada, raspada por espátulas marcadas. Existe mais de fora do que do interior Salve-se exceção de verbos de labor. Sinta amigo, este sabor! Uma palavra puxa a próxima e a anterior Como um trem sem destino os versos soam Mas não viaja por acaso, quer chegar em algum lugar Veja a fumaça da Maria-Fumaça. Maria Virgem Mãe do Jesus de Praça Fé de fácil acesso desfalece e embaça. Desembaça as cabaças das suas traças A alma é antiga e a mesma há anos E enxerga em mim com males e desenganos Mas eu viro pombos e minhocas, gatos e tucanos. Eu sou um tudo e um nada resumido em simples plano.

A Minha Crença

Eu acredito que até mesmo a morte do mais delicado inseto, causada pelas nossas mãos, pode afetar o nosso espírito, e manchá-lo com uma aura negativa. Eu acredito que a felicidade máxima está em respeitar a vida, no mais amplo sentido dos sentidos.

Dedicatória

Há pessoas que aparecem em nossas vidas, e que de uma hora para a outra, as viram de cabeça para baixo. Isso já aconteceu comigo antes, mas posso dizer que raras foram as vezes. Em muitas delas, as pessoas que viraram a minha vida de cabeça para baixo, ficaram extremamente amedrontadas de se responsabilizarem por mim, uma vez que me teriam cativado para sempre. Pessoas assim, que involuntariamente (ou voluntariamente) roubaram um pouquinho de mim, para me deixar a dolorosa saudade, eu já descrevi em um outro dos meus poemas: "Meu coração não é meu Está em toda a parte dos caminhos que andei Cada um carrega um pouco do que é seu" (Poema Saudade, de Matheus & Borges, escrito em 11 de novembro de 2006 e publicado na página http://recantodasletras.uol.com.br/autores/bacobass ). A maior coincidência é que este poema Saudade foi escrito há quase 3 anos do dia de hoje. E hoje é um dia especial, porque descobri e redescobri um belo sentimento em meu coração. O co

Vendaval

Começa com um sopro. Os olhares, esguios, Não se encontram mais. Não é mais a voz que fala Ela cala. O corpo aos poucos estremece Desescama, desencana... As formas tomam formas Da forma que o olhar desconhece. A alma morta toma nota Aviva-se em estranha calma. A preocupação doentia fenece E à nos, a música desfalece. Canção noturna e sussurrada Resplandece em tempestade de verão E termina no frescor do amanhecer. E a voz, aos poucos reconhece Cai o sono no olhar estarrecido E o corpo, dormente, adormece.