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Tsemaya Sentle Imaan

Abrem-se os finos céus
Olimpos ou Paraísos
Enquanto os deuses choram.
Um caminho negro e vivo
Arrasta-se nas alamedas
Enquanto as Deusas oram.

Pés exaustos, resvalados
Caminham pensando a sorte.
É uma marcha de dor
É uma marcha de morte.

Confunde-se a pungente dor
Com a alma de sua cor.
Trazem nela as marcas da história
Dos infinitos açoites
Dos buracos de fome
Dos dias de eterna noite
Das infinitas mortes sem nome.

A morte aqui é branca
Negra é a viva alma
Caminha na sua sorte
Uma marcha de dor
Uma marcha de morte
Uma mancha, um corte.

Os céus se abrem
Não no dia claro
Não na porta luzidia!
Caminham na sua sorte
No mais lúgubre do dia!

A cada passo caminhado
Sorve o sofrimento
De um anjo que é contemplado.
E neste duro firmamento
É eternamente esquecido

Mas eu cravo com brio
A ponta firme de minha dor!
Tsamaya Sentle Imaan!
Tsamaya Sentle Imaan!
Vá e leve contigo
Um pedaço do meu amor!

Um anjo bom é esquecido
Não canonizado
Um anjo puro, só
Cruelmente amordaçado

Escreverei teu nome com lágrimas
Com unhas e com dentes
Derramarei meu sangue
Marcarei na minha pele
Gritarei teu nome
No pior de meus pesadelos
Mancharei o já manchado chão
Ó filho, jovem criança, pequeno irmão.

Ó filhos esquecidos
Caminham eternamente
Para seu incerto incenso!
Caminham eternamente
Olhando para o céu
Enquanto os deuses oram
E as Deusas choram.

Um passo firme
Uma queda livre
Um eterno declive
Um erro de nossa glória.

Caia sob a terra
Gaia sob a guerra
Eterna criança
Dolorosa lembrança.
Joelhos ao chão
Soluços injustiçados
Frágil força de viver
A vida simples que se vai
Que nos pede para morrer.

Ah eterna criança
Ah pequena lembrança
Uma vida sem importância
Derrubou uma multidão
Abalou mil corações
Mas fez-se silêncio
Começa uma oração.

Leina ja gago a le itshepisiwe
Leina ja gago a le itshepisiwe
Leina ja gago a le itshepisiwe!

A marcha fúnebre escoa
Enquanto sob asas pueris
O nosso anjo eterno
Para o céu dos esquecidos
Rapidamente sobe, e voa!

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