Pular para o conteúdo principal

Postagens

Composição

Reconheço minha função mínima no mundo. Fecho os olhos Para escutar o som dos pássaros cantando Ventos para lá e de cá Batem nas folhas das árvores Que soam por existir. Entre os sons desta natureza estranha Ouço vozes de homens. Deste mundo também fazem parte.

Morte e Misticismo

A única transformação que a morte traz ao homem, é a capacidade de torná-lo inanimado. Após a morte, o homem permanece homem, nem mais nobre, nem menos nobre, apenas inanimado. *Imagem - O Dia da Morte, pintura de William Adolphe Bouguereau (1825-1905), pintor acadêmico francês.

A Destruição das Horas

O que são as horas quando eu tenho os teus beijos? Pois não me fale de horas E nem de obrigações Fale-me dos teus beijos. O que são beijos sem os teus lábios? E quando os olhos poupam os lábios O olhar furtivo e sutil Cálido como a brisa fresca da aurora Cala-te por agora Fala-me pela hora Os olhos sem os lábios Eles voam e sons silêncios Sutis e gloriosos, sábios. Os minutos são gotas de suor. O que são as horas sem o ensejo Volátil e livre do teu caminhar? Caminhas como danças Danças em estâncias De contrabaleio de balanças. Calaboças andanças Lábios de sonhar esperanças. Em teus braços livres Eu me esqueço de mim Eu me esqueço dos relógios.

A Primeira Morte

Sentado na areia da praia Estava escuro Mas uma fogueira tímida tentava me aquecer. Mal conseguia ver as estrelas. O ar me esfriava A areia me coçava A maresia me ardia os olhos Mas nada disso me importava. Pensei nos amigos Em todos que foram E em todos que estão. A chama da fogueira foi se apagando E se apagou. Não havia ninguém para vê-la se apagar comigo.

Poema de Repetição

Poema de Repetição. Poema de Repetição. Poema, de Repetição. Repete são Repete som Repete dor Repeterror Repede amor Recolhe dor. Enche o copo Esvazia o copo. Enche o peito Esvazia o peito. Abre os olhos Fecha os olhos. Marca a hora Levanto Deito. Cara cora Repetição Enche a taça Bebe a taça Solta traça Perde a graça Embaça FFFFF... Fumaça. Poema de Repetição. Poema de Repetição. Poema de Repetição. Reticências Retalhências Retunbâncias Reticências Da repetição. Retenção Petição Reterão Retenção. A estrada sobe A estrada desce A estrada curva A estrada turva O monte urva. O peito enche Esvazia Escoria Escurece A noite anoitece O dia amanhece Ninguém esquece. Levanto Deito Dói o peito Cai no leito. Poema de repetição. Mato no chão Estrada vazia Vento no chão Copo no chão Vazio, vazio, vazio... Poema de repetição.

Esperando o Trem

Esperei para nascer Espero para morrer Espero para tudo acontecer Minha vida me bota a esperar E esperando espero não esperar. Espero o ônibus O trem E a minha incansável carona. Espero a nuvem de chuva E o sol escaldante Espero aquela brisa fresca Espero a barca. Espero a noite chegar E o dia terminar de nascer Espero a lua brilhar Enquanto as estrelas tocam Uma sinfonia do iluminar. Espero o sol parar de brilhar E o mar parar de subir A colina parar de ser alta. Espero não sentir sua falta. Espero para crescer E ver que tudo o que aprendi Era só questão de esperar. Não espero para amar Espero para receber Recebo votos de esperança Espero que a alegria não salte Pela janela da desilusão E depois de tanta espera Espero a tristeza passar Espero o choro passar Espero tudo passar. Espero pela lágrima que não cai Espero pelo sorriso que não sai Tudo é questão de esperar. Espero um dia esperar Que tudo

Quando a Luz se Apaga

Rastros de uma vida infeliz. Às vezes a lembrança vem implacável, e de todas as vezes em que estive triste de verdade (tristeza de verdade é um sentimento muito intenso) a imagem mais clara a qual aludia minha alma era a de uma luz se apagando. Todo mundo tem medo do escuro, certa professora disse. Por que será? Quando não há imagens presentes no nosso campo de visão, automaticamente começamos a nos defrontar com as imagens do nosso cérebro, da nossa imaginação, daquilo que evitamos enquanto 'conscientes'. Temos medo do que está dentro, do que escondemos, daquilo que constantemente reprimimos. Nas sessões com a psiquiatra ela me disse: "Se você sentiu, se você pensou, é porque ele está lá, dentro de você. Não ignore, enfrente". Pois é, enfrentar o medo do escuro, o medo de aceitar as limitações, de descer um pouco do pedestal do orgulho e assumir os erros, assumir as falhas, pedir desculpas, mesmo que não aceitas. Danem-se todas aquelas sujeitações maiores de