Pular para o conteúdo principal

Esperando o Trem


Esperei para nascer
Espero para morrer
Espero para tudo acontecer
Minha vida me bota a esperar
E esperando espero não esperar.

Espero o ônibus
O trem
E a minha incansável carona.

Espero a nuvem de chuva
E o sol escaldante
Espero aquela brisa fresca
Espero a barca.

Espero a noite chegar
E o dia terminar de nascer
Espero a lua brilhar
Enquanto as estrelas tocam
Uma sinfonia do iluminar.
Espero o sol parar de brilhar
E o mar parar de subir
A colina parar de ser alta.
Espero não sentir sua falta.

Espero para crescer
E ver que tudo o que aprendi
Era só questão de esperar.

Não espero para amar
Espero para receber
Recebo votos de esperança
Espero que a alegria não salte
Pela janela da desilusão
E depois de tanta espera
Espero a tristeza passar
Espero o choro passar
Espero tudo passar.

Espero pela lágrima que não cai
Espero pelo sorriso que não sai
Tudo é questão de esperar.

Espero um dia esperar
Que tudo o que um dia esperei
Não espere que eu possa voltar.
Espero voltar para trás
E ver do quanto fiz mais
O menos que tanto esperei

O dia me faz esperar
E a sombra espera sombrar
A luz ilumina o esperar
Espero luzir o luar.
Soletro a esperança no ar
Espero o sol se acalmar.

Espero a natureza acabar
Acabo o quanto tanto esperar.
Espero de vez em dormir
E durmo enquanto espero acordar.

A vida o quanto te espero
E vivo o quanto te quero
Espero não precisar errar
Espero não precisar chorar
Choro para não esperar
O quanto te quis pra voltar.

Feliz espero esperar
Espero o quanto durar
Duro o ser e o estar
Estou em um duro esperar
Eu sou a esperar do ar.

Areja minha espera de olhar
Eu olho a esperar de olhar
Eu espero a aspereza do olhar
Eu aspero o olhar de esperar.

Espero no horizonte
E busco a sua face perdida
Busco aquele sorriso sublime
Busco aquela voz estranha
E o sorriso que espera
Que a esparança jamais acabar.

Em verdade sempre esperei
Espero por todo esse amor
Espero por toda essa dor
Espero com sublime e sincero calor
Que a frieza pobre desapareça
E não me faça esperar na torpeza.

Em verdade sempre esperei
E espero como quem morre
De dia sim e dia não
Pois a cada dia de espera
É um dia que me faz falta
E cada falta que faz
É uma esperar de quem mata.

Espero pelo sim
E pelo não
Espero pelo sol
E pelo som
Espero pela noite
E o silêncio
Espero para nascer
Espero tanto
Para morrer.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Chamas de Yemanjá

Almíscara penumbra O ar que pesa em febre As sedas ardem chamas Verte-me a maré da criação. Recebo em exortação As faíscas que te explodem sob a pele  Cubram-me, estrelas cadentes. Ergo-te minha aberta taça Largo anseio a coletar Neste cristalino cálice As pérolas de deleite mar. Perfeita ondulação Com um arqueio para trás Transmuto em Eva Rosa aberta das Mil Noites Das mil insaciáveis noites! Sem medida. Deixe que caiam Que cerquem-nos as brumas Banham a alma o noturno orvalho Ouça este canto É a beleza do profano hinário. Neste sonho vivo Altivez de devoção cutânea  Rito ao lúgubre exorcismo  Governa e acata simultânea. Sorve dominada a benta água Aceita a nativa incumbência  A viva e infinita exultação. Quente e pesada Cai a noite Salto na cidade inteira Soltas rubras copas Sem medo Reflexo brilhante das estrelas Embebe o lacre dos segredos. Quente e pesada Em açoite Salta a cidade inteira Um, dois, três, quatro Brindem ao pórtico Abraçados às cortinas Rasguem o m...

Erospectro

Dança a débil seda da cortina em altivez Acaricia, enquanto sôfregas, balança O alabastro lívido de porcelana tez. Ajoelha ante a luz da superfície pálida Princesa portentosa do teu estreito templo Aporta em silhueta a majestade cálida. Anda, paladino, sobre a laiva curvatura Forrada do plantio de calêndulas laranjas Descansa à boda quente da lacuna escura. Venera esta abadia, pétala a pétala Diante da minha dupla onírica imagem Repousa em cada vale de divina sépala. Despeja-me o orvalho em êxtase, a coroa, Na carne-alvura arqueja em nosso infausto cio, Em véu e labareda, um altar, uma pessoa. E quando finda a música, resta-me a visão: Princesa, diabo, luz, deleite em união, No espelho sorridente à criadora perdição. 

Dez Mil Dias

Certo dia foi assim Peguei o ônibus Sentei na calçada fria Esperei falarem comigo Deixei a mão suspensa, em vão E em um gole, matei minha sede Para no segundo seguinte Você não estar mais aqui.  E soube certa vez Que não estava mais aqui Às vezes Quem não está Parece nunca ter partido. Te via na luz Te via no amanhecer Te via Te vejo Na minha vontade de morrer. Tua voz que parei de ouvir Ainda soa para mim. O teu perfume de ternura Sinto em todo lugar O teu semblante de aurora Vejo-o nas pontas dos dedos. E sobreponha a  eternidade Entre o que plantou em mim E o fim do mundo E você ainda estará aqui. É assim mesmo. Porque  Ante a catástrofe  A confusão A existência O desamor e a desilusão A tristeza e o rancor As mágoas e a reclusão Três palavras Quatro sílabas A minha incapacidade humana de decifrar A dissolução da minha angústia: Eu amo você. 📿📿📿📿📿📿📿📿📿📿📿📿📿📿📿 Tudo isso começou no dia 06 de Maio de 1998.