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Percepção

Com dois olhares capta-se duas coisas distintas. Ler com dois olhares diferentes é viver dois mundos, viver duas vidas, viver um pouco mais de uma coisa que só poderia ser uma. Mas a vida é tão múltipla e complexa. Isso traz uma tristeza bela. Espero que gostem do poema de hoje que é como eu me sinto quando lembro das passagens de uma adolescência conturbada para uma vida adulta cheia de medos. Só vi um horizonte Só vi a linha torta De uma cidade só Só vi a escadaria De sombras feitas no chão Na sombra de um homem só. Só testei uma tentativa De só ver além E de ninguém ver o que só vi. Só entendi poucas coisas E só compartilhei com todos O que juntos todos já sabiam. Só estabeleci uma regra E só defini uma meta Para os lugares que só chegarei. Só vi um grupo de pessoas Imagens conjuntas de momentos felizes De uma felicidade que não se sente só. Mas só daquilo partilhei À distâncias dos que não estão sós E só senti que o que eles sentia

Esquadro

Olho para o universo E não vejo o universo Não sou nada. Vejo no máximo possível Da mais bem direcionada Um reflexo de minhas intenções.

Se

Quando a água estava ao fogo Não ferveu Não respeitando nossa ciência. Mar imenso Praia imensa Praia intensa A onda foi, voltou, foi de novo. O que veio não vem mais.

Tristeza

Situação assim Quando Deus olha pra mim E diz: "Você é fruto do ser estar Nada te pertence Nada te pertencerá." Um sorriso me toma conta Eu deito e durmo O sono dos que acabaram de nascer E esqueço por um momento Que não tenho para onde ir Nem para chegar Enquanto estou só Num mesmo lugar.

Não tanto pela eternidade Nem pela glória Nem por mim mesmo Por que então? Matéria palavra Sentimento quase consentido Que fica preso Que fica solto Fez-se eterno enquanto pode Nos olhos cansados de tanto trabalho (Quanto trabalho, oh deuses dos confins das religiões que ninguém fala ou ora mais!) Mas que ainda brilham. E por trás de cada olhar sutil Uma vida vive antes Ante a uma ilusão tardia. Não por si própria Nem pela crença Nem pela criança Por quem então? Aquele brilho azul noturno De cair de uma noite lenta Atrasada Silenciosa Sedenta por o que seria mesmo? Aquele olhar de tédio Como um pasto quente, e só verde Cheio de vacas e bois preguiçosos Que me enchem de preguiça. Se não é pela palavra Se não é por nada Por qual destas seria? Pelo quem a vida ainda respira? Do por que que tanto teimamos? De quanto mais viemos e vamos Cai suor, sujeira, choro e sangue Por que ainda tentamos? Quanto mais anos

Olhar-te

No dia 26 de Janeiro os paulistanos que se prezam puderam presenciar um acontecimento muito importante. Não, não falo do primeiro dia após os 457 anos da cidade suja de São Paulo onde eu moro, embora eu a ame sem explicação. Falo do aniversário de dez anos da Cooperifa, o Sarau da periferia que acontece no bar do Zé Batidão, na região da Piraporinha. E, talvez, como comemoração, houve também o lançamento da revista Cooperifa, que registra um pouco da trajetória e dá uma pontinha sobre o que seria a Cooperifa, que em tanto é muito diferente do que quando presenciamos o Sarau. Na Cooperifa podemos ver um exemplo vivo de uma síntese da história que acontece de dentro pra fora. Por anos das nossas vidas empurraram goela abaixo que Dom Pedro I, Pedro Álvares Cabral, os Bandeirantes, e toda essa elite preguiçosa, são os verdadeiros heróis do Brasil, pois foram muito importantes para... bem, nada! Na época a história era uma coisa muito chata. Sempre contaram mal as nossas histórias, por

A Nação

Houve um dia que eu me cansei um pouco da burocracia que envolve o curso de licenciatura. Esse dia foi, de certa forma histórico, só que meus pés não são o limite do mundo, então tanto faz. Acontece que a burocracia do ensino superior para aqueles que buscam a licenciatura é, tão desnecessária, e tão medíocre, que acaba cansando as energias únicas que sobram ao estudante que paga pela sua faculdade, e que deveria se preocupar apenas com o conteúdo do curso. Quem cursa alguma área de licenciatura sabe do que se trata, a extensa lista de disciplinas que despreparam o ânimo do professor para enfrentar um monstro ainda maior e mais feio: a secretaria da educação e o Ministério da Educação. Parece final de Super Sentai! Professores e políticos, em geral, parecem farinha do mesmo saco. Submissos uns aos outros, dependendo de quem tem o interesse mais poderoso do que quem, todos sob a ordem de uma mão mais forte, que é a do Corporativismo. Quero dizer, nos despreparam para desconf

O Carrossel

Enquanto o mundo inteiro não pára por um segundo, enquanto as coisas acontecem porque as pessoas vivem, e não porque algo já esteve escrito, vamos por aí de mãos separadas lutando por uma causa só, mas com a minha percepção do que é correto, ignorando o todo, e juntando diante de mim apenas aquilo que me for conveniente. Pois até mesmo a luta revolucionária, esta que parece já ter manual de instruções de uma causa, junta cabeças que pensam por uma coisa única e jamais por si próprias. Enquanto isso, o altruísmo distante nos faz esquecer da nossa miséria constante. Por mais do quanto tivermos, seremos sempre miseráveis, conformados com nós mesmos e inconformados com os mesmos de nós. O Carrossel Um não pela pessoa Acima de um reflexo perfeito Roda no carrossel perfeito E vaza solidões no centro de si mesmo De um céu estrelado e perfeito. O velho que desce para o mar Encontra um céu azul Cheio de estrelas Longe daqui Cheio de estrelas. Mas no mar das solidõ

A Valsa

Eu só não entendo quando acontece de duas pessoas que se amam tanto não conseguirem se entender de verdade. Eu danço para não racionalizar o sentimento que tanto sinto, e ofereço uma dança a quem sinta que não possa entender as confusões tão óbvias dos nossos corações. Valsa, foi-se o tempo em que era exclusividade. Até os mais pobres de espírito têm o direito de amar. A Valsa Dois para lá Dois para cá Dois que se cruzam E jamais se apagam da memória. Um de paixões meteóricas Um de dolorosas retóricas Dois para lá Dois para cá E no três quartos Sobra um quarto vazio E de compasso errado Dois para cá em harmonia Dois para lá que vão embora Duas idéias conjuntas Duas almas perdidas Duas longas conversas Duas para sempre feridas. Dois beijos de desculpas Duas paixões duas nucas Duas mãos que se apertam Dois corações que se expremem Uma banda toca enquanto acertam Se bramirem, alvoraçarem enquanto tremem. Duas conversas ine

Carta Aberta Ao Conservador

Não consigo entender de onde vem o ranço que a classe média sente por saber que há pessoas que recebem um benefício do governo, e que é por direito delas, algo que está, ainda que mal difundido, previsto na Constituição. Por vias de buscar este entendimento, escrevo-lhe uma carta aberta, querido conservador. Aqueles que são beneficiados pelas bolsas assistencialistas não são os ditos excessivamente pintados nas anti-propagandas da oposição, tipos que se beneficiam do dinheiro dos impostos, e que abusam por achar que não tem que trabalhar. Sim, há a realidade de pessoas que optam por viver apenas da bolsa do que de oportunidades de trabalho, mas para muita gente isso é uma coisa difícil de compreender. Para você, cidadão, que está privilegiado em um ambiente de trabalho confortável e recebe um salário que pode ao menos ostentar a sua futilidade, esta compreensão só será atingida quando a sua perspectiva se ampliar para além do refeitório da sua empresa e de seu restrito círculo de am