Pular para o conteúdo principal

Para a Música Sem Nome

Eu podia morrer agora

Fama talvez.

A mais nova notícia do noticiário do povo.

Nem que fosse ao menos por uma semana

Meu sangue anêmico esparramado ao chão seria notado enfim,

Já que não em minhas veias tristes e dilaceradas em vida.

Melaria e avermelharia um pedaço de terra e de história,

E uma música soaria.


Essa música que não tem nome.


Talvez pudesse se chamar 

“Noturno triste contemporâneo em Mi menor”

Tristeza contemporânea

Iguais às de hoje em dia.

Tristeza esparsa, vã e mentirosa.

Tristeza que todo mundo sente

Tristeza que ninguém quer sentir.


Ou talvez pudesse ser a música que todo mundo queira ouvir

Daquelas que a gente não acredita!

[que às vezes o dia é desagradável e não tem retorno.

Mas a gente não acredita e muda de estação.


Daquelas em que eu sonho com a princesa de Minas Gerais

Daquelas em que eu acho que a princesa tem um sorriso lindo

Lindo de morrer

E que é pra mim, mas na verdade é a música que me deixa assim.

Quando eu digo que te amo e acho que obtenho uma resposta.

Mas é só a música.

Postagens mais visitadas deste blog

Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.