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Lodo

 Vem aqui o hipócrita novamente

Novamente vem o falso doente

Lamentar


E o lamento dessa vez

É pela imensa estupidez

De ter na pele quente a mão

E um amor oculto no coração


O rumo se perde todo

Quando ao invés de arco de grinaldas

Encontra no meio da praia

Aquela que se fez do lodo.

Do lodo que veio daquela

A qual feita foi da costela.


E desde a infância sonho

E não paro de sonhar

Que em grama verde vou

Ao belo lodo me entregar.

Mas há lodo que se faz lama

Mesmo em cores e pingentes

(Cores vermelhas e quentes)


Não escuto mais

Os risos que nunca ouvi na infância

Escuto apenas na lembrança

Do impossível desejo

De voltar a ser criança

E encontrar em toda esquina

A princesa que escolhi.


Numa cama de viúva

Não se ouvem mais as brisas

Não há perfumes elísios

Não há o inexplicável delírio.

Numa cama de viúva

Hoje há apenas o grito.

Um cigarro aceso

Um copo que queima

Um olhar que não vê

Uma voz que não fala

E um coração que não bate.

A fumaça sobe e dissolve

Junto com o sonho inútil

Mas o sonho fica

Enquanto o grito se dissipa.


Tudo que há de belo

Está descrito em belo túmulo

E junto a este há o esterco

De onde surgirá a grama

Para se fazer o lodo

E para destruir-se todo.

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