Pular para o conteúdo principal

Além das Horas

Por ora deixemos o passado
Guarde estas almofadas velhas
De vermelho desbotado
Deixe as velhas canções de lado
Os talheres de prata desgastados.

Salto por cima do colchão
Entreolhos olho o espelho
Que tanto nessa vida procurei
Que por ti lágrimas derramei
Jaz aqui diante de mim mesma
O reflexo da minha fronte
Na córnea límpida celeste.
E onde eu me encontro em seus olhos
É onde comprazida estarei.

Veja embaixo da minha cama
Quantas poças ali acumulei
Presas em velhas garrafas alcóolicas
Cujas nunca mais eu beberei.

Mudaram as estações e as cores
Mas permaneceram as mesmas dores.
Nasceram as costumeiras flores
Que se destinavams aos mesmos amores.

Saltei por cima do minuto
E andei um passo adiante.
Larguei as taças embriagadas
Larguei a solidão das escadas.
Larguei um pouco a minha testa
E deixei a luz entrar pelos olhos.

A mesma estação que permanece
Não é a mesma, é apenas ilusão
Ora vento esfria e ora aquece
E uma hora ela certamente padece.

Mas aqui não mais fenecerei
Aqui não mais torturarei
A minha eterna expectativa.
Aqui em brando silêncio
O roxo dos meus braços curarei.

Postagens mais visitadas deste blog

Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.