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Namastê

Eu flutuo pelo mundo de olhos cerrados
E tudo quanto vejo, quanto cheiro
Todas as coisas que me agraciam o ser
Elas não são estranhas para mim.

Não me impressiona a beleza afrodisíaca das cachoeiras,
Não me assusta a imponência colossal dos desfiladeiros,
Não me alegram, nem entristecem, o verde perfume dos arvoredos,
O céu luminoso não me traz calma nem pertubação,
Menos ainda a noite me traz tormento ou desilusão.

No seu vôo sutil, a borboleta eu saúdo com a respiração,
A pantera indomável, eu domo com a paz do coração,
Estou leve e cambaleante como a tromba do elefante,
Eu sou desde a pedra à estrela, som calmo e retumbante.

Todas as coisas que me agraciam o ser
Elas não me impressionam,
Pois me tenho em todas as partes do universo
Tanto em vida como em morte.
Sou eu do cume ao sopé

Sou eu do sul ao norte.

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

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