Pular para o conteúdo principal

Bolsa Tipicamente Feminina


Tirei da bolsa de menina
Bolsa bolsa
Tipicamente feminina
Um quarto puro
De Cilibrinas.

Bolsa bolsa
Tipicamente feminina.

Bolsa escova
Toalha molhada
Cama malhada
Suor do pescoço
Com perfume de flores

Bolsa bolsa
Tipicamente feminina

Bolsa independente
Sem braço
Sem fecho
Sem corrente
Bolsa livre e sorridente
Bolsa de alegria, amor, paixão ardente.

Bolsa bolsa
Tipicamente feminina

Tipicamente feminina
Que precisa de amor
E precisa de carinho
Mas se o coração sente aperto
Sente o grilhão
Sente o sufoco
O coração quer ser sozinho
E livre segue o caminho
Sem fecho
Sem corrente
De alegria, amor, paixão ardente.

Bolsa bolsa
Tipicamente Feminina

Escolhe quando quer e quando vem
Fica se quiser
Cheira se quiser
Cheiro de homem
Cheiro de mulher
Cheira como quer e quantos quer
Bolsa sem flores
Sem raízes
Bolsa de mariposas
Sem matizes
Que na flor escrava pousa.

Bolsa Sol
Só cheia de carinho
Um sorriso largo
De espanta amargura.
Domínios da eternidade
Criança pura
Que desde que falou-se em deidade
Ternura.

Bolsa Vênus
Vê-nos com razão
Ouve o cardume!
Zumbe e traz o mel
Brinca aqui, brinca ali
Subiu das águas borbulhantes
E desde então houve o perfume.

Bolsa Marte
Parte em busca da sua parte
Tétis, Ísis, Freya, Ogum,
Em uma sim, em outra não
Em breve firme
Outra no chão
Uma vez concede
Outra concebe
O resultado é sua arte.

Bolsa Lua
Outrora dele, outrora sua
Outrora míngua, nova e cheia
Dói. Cambaleia, não cai
Pisa firme, teima e sai.
Inspira amor
Inspira paixão
Inspira carinho
Inspira tesão
Inspira expira transpira
Uma idéia, um sonho
Um sorriso
Feliz então.

Os astros não tem órbita
As bolsas não tem alça.

E um dia procurou por sua metade
Sendo bela da madeixa ao artelho.
E viu que tudo o que lhe falta
Está do outro lado
Na imagem refletida do espelho.

Tirei da bolsa
Bolsa bolsa
Tipicamente feminina
Um quarto puro
De bela cilibrina.

Postagens mais visitadas deste blog

Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.