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Substância: continuando sobre comunicação...

Desde que me coloquei a pensar sobre esta questão, lembro um pouco da proposta dos Concretistas. Aqueles poetas que escrevem (ou desenham) poesias. Afinal o que querem eles? Fazer-se entender de qual forma? Pois esta é a chave, a forma da forma. Num texto escrito é difícil captar a idéia. O poema concreto, pelo que pouco pude pensar, extrapola os limites da leitura gradual. A leitura de um poema concreto faz-se do todo, pois a imagem também diz muitas coisas.

O que querem eles afinal? Bem, refletindo sobre esta questão eu pude perceber uma ponta de crítica ao texto tradicionalista, que é este mesmo que escrevo agora. O escritor diz mesmo tudo o que quer dizer? Não quereria ele, manipular a nossa visão e nossa opinião sobre determinado assunto em favor de uma causa que vai além de sua causa individual? Sociedade não é nada sem grupos. Idéias não são nada sem força.

Uma idéia sozinha vira mentira, ou divagação. Uma idéia em dupla vira complô, ou vaidade. Uma idéia em conjunto torna-se verdade, torna-se uma espécie de força motora que vai conduzir a sociedade para determinado rumo, e escreverá a história de determinada maneira. Pois então um novo arquiteto das idéias surge, acrescenta algo àquela nova idéia, enquanto que outro tenta desconstruir, dizendo que o assoalho está demasiado roto, furado, está trespassando gotejos de uma garoa insuportável e torturante, e há de querer derrubá-la, tapando os buracos com uma nova idéia. O castelo do legado humano é interminável, e já ultrapassamos as nuvens. A idéia nos levou à Lua, e agora queremos Marte. Mas nossa ambição, embora seres pequenos, é surpreendente. Queremos conquistar o universo. Nós queremos o posto de Deus.


Substância:

Ainda direi completamente
de tudo o que é preciso
as idéias que respiram
outra vida insatisfeita
pela existência que nunca termina

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.