Pular para o conteúdo principal

Reflexões num Casulo Moderno

Vontade enervada conforme os ventos sopram para lá
Cachos de cabelos e músculos ruidosos
Para que serviriam eles?

Uma vez eu soube, como sabem os que pouco conhecem
O espelho vira vidraça conforme se viram para nós
Então por que a fonte demasiada de esperança?

Criaturinhas brilhantes, como vaga-lumes sinceros voam em meu contorno
Não tenho asas coloridas como as borboletas
Ou uma direção precisa como os gaviões
Minhas asas contornam as costas da minha segurança.
Porque quanto mais sei sobre o que não sabemos
Mais me torno em fruta ressequida
E mais ao longe, mais distante ouço
Risadinhas e gritarias do fogo de artifício em um parque de diversões.

De nada me servem as impressões indistintas numa noite cintilante qualquer de uma festa confusa.
Nada que me serve senão mesmo para minha recordação
E minha impressão.
Pois o que há de honestamente necessário
Nessa imensa vitrine de coquetéis?
Seja na porta de entrada da boate
Ou na recepção do hospital
A doença permanece a mesma:
A dementalidade pouco reconhecida da mentalidade.

Serei e sou o único são quando perceber que sou o único demente.

Postagens mais visitadas deste blog

Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.