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Poema Cômico da Tragédia Alheia

Oh terras que nunca vi
O sangue dos chãos das guerras passadas
Cujos clamores sequer sei dos sons
Direi aqui coisas sem coração
E perdoem-me os bons pela pretensão
Serei pretenso como o poeta que inventa memórias

De todas as ninfas que me inspiram
A minha chama-se ambição
E tal como oportuno caso
Faz com que o verso seja vogue

Dom Quixote na cama esperando ser
Embutas-me à mente uma sinceridade lunática.
O doente se vê normal
Não crendo em sua anormalidade fanática.

Oh nordeste tão maltratado
Oh sina de uma coisa que não compreendo
Por que sofre aquela gente
Com quem nunca tive contato?
Por que as injúrias das pessoas
Que padecem de fome e sede
cujos detritos o cheiro não faço ideia
Porém me empardecem nos discursos das paideias?

Oh as pessoas que sofrem
Oh as crianças que morrem
Oh as pessoas que fazem oh
Sem valia, sem compreensão, sem nada para dizer!
Oh!

Oh Deus dos sentimentos vagos
De importância pálida e pouco consentida
Porém de necessidade humana intelectual
A que a ninfa entede pouco ou mal
Mas que a fama me fará dela bom serviçal!

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

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A Praça

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