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A penúlltima Volta do Parafuso

Diante do espetáculo sombrio
Dessa gente morta de pouco afeto
Pulsa o sangue aberto no pulso frio
Como lágrimas vermelhas em chão repleto
Verte a gota nesta cama amarga e sombria
Como sopram os ventos segundos do dia
Em cada pingo em chão o abraço
Uma fenda esfumaça a pena se revela

E sofre como açoite em velho hábito
O cantar de sofrimentos ocultados
Não senão pior é o castigo
O sofrer sem razão direta, concebida
O morrer de pouco sem saber o que te mata
Seja em corpo ferido e infecto
Seja infeta alma que acorrenta.
Ainda sendo o verbo que te maltrata.

Não cabe em ti o amargor externo
Como se não coubesse nuvem de ressaca
Em cabeça de inverno.

Ventania, carrega o passageiro solitário
Que desloca a poeira dos dias, lentamente

Já não será tamanha a dor
Não sendo sua ferida aberta.

Cede o caminho adiante
Ante o obstáculo terno
O invível de uma imagem que aprisiona

Para liberta a corrente uma palavra basta
Uma palavra vale mais que mil imagens
Para a liberta palavra vale apenas uma imagem
Um liberto vale mais que mil palavras.
Mas quando não se sabe...

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

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A Praça

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