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Vulto na Neblina

Não é veia, nem vinho
Não veio.
Não é nada desperto, decerto.

Vês a névoa que nos cerca?
Esta névoa que nos arrebata às mentiras e desilusões?
Pois bem, eu não
Eu não vejo nada.

Imagens:
O que é então esse mundo miserável?
Que torna irmão contra irmão
E faz o justo ser levado a crer
Que é crente contra o injustiçado?
Onde não guarda rancor com quem inventa e quem faz sofrer
Mas quem sofre como se fosse de provocação
Estes famintos, estes enfermos e quase mortos
Estes sedentos por direitos de viver e libertação
Que carregam um ímpeto poderoso em seu peito
Caídos, quase sempre, como escombros dispostos pelo chão.

Colônias e mais colônias, colônias de todos os aspectos
Para disfarçar o cheiro reto.
A justiça do homem feito não é a justiça pela palavra
Dinheiro, o senhor de todas as verdades.

Creio em Deus, a verdade e os homens
Creio em seu cetro
Creio em seio lácteo, luminoso
Tua borda enverga para o infinito
Colônias

Estás preso em uma colônia monumental
Estás preso em uma colônia mental meu filho

Se Deus é por nós
Por qual dinheiro será contra nós?

Creio em Deus, a verdade
E os homens Creio em seu cetro
Creio em seu seio
Lácteo luminoso tua borda
Enverga para o infinito colônias.

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

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