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Adeus recebido, agora me deixa ir.

Enquanto caminhava na minha estrada, não era uma adolescência tardia que eu buscava. Houve um momento em que a voz do menino se calou e passou a tentar parar de ter medo, porque todo mundo tem medo. Se não tenho psicólogos na vida, nem amigos, nem pessoas que possam estar dispostas a acompanhar a minha loucura, então de verdade, me deixa ir.

Mas não me diga que não tentei, não me diga que não amei, que não me sacrifiquei, que não tentei crescer antes do tempo, que venci meus medos individuais, que superei barreiras, que passei noites em claro pensando pro bem e pro mal, que não me doei. Mas me doeu, e por isso é que fui. Porque chegou uma hora que minhas palavras eram tipo canto de pássaro. Algumas pessoas acham bonitas, outras pessoas acham incômodas, mas no fundo, ninguém entendia. Na tentativa de ser sozinho a dois, optei por ser sozinho sozinho.

Uns tem medo de passar a vida achando que não aproveitaram o suficiente, outros tem medo de dividir sua vida com outras pessoas e acabam crescendo uns sociopatas dementes, mas todo mundo aqui tem o seu direito à sol ou sombra, e claro, água fresca.

Fui tarde, mas tentei até o último minuto. Amar em liberdade não permite incoerência, não permite ciúmes e nem insegurança. Amar em liberdade não permite medo, então se houve enclausuramento, essa gaiola foi construída a dois. O que faltou foi o que se perdeu: cumplicidade. Mas toda paixão nova e diferente começa sempre do mesmo jeito. O pior é cometer os mesmos erros.

Deixa eu ser egocêntrico porque a referência é clara.

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