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Perdendo

Transborda de mim o mundo de minhas costas
Perdi dos meus olhos a minha criança
Cirandando por aí, vejo-a mal, um vulto
Persigo-a, adepta à covarde nostalgia
A nuvem flutuante que de seu canto vem

Dilui-se em alívio, um respiro, o ar
Tão simples, o ar.
A medicina para o pisar no chão

Aquele homem bom, com aquele manto, suas feridas, braços abertos
Não sei mais, até isso repousa na mente

Mas me promete amor?
Felicidades?
Não duvidar de mim?

Bebi, porém, sozinho, da fonte
Extraí o néctar da vida
Não foi por egoísmo
Foi por pura dor.

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

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A Praça

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