Você nunca será
Disseram
Não fui
Porém sigo sendo
Até enquanto houver ousar
Mas ar enquanto está tendo
Não hei
O que quer que seja
Que não seje
Suje...
Saja voa como voa a asa
E vaza
Ninguém se importa da sua importância
Ou sabe da essência
Como sangue em aberta artéria
Arturia em sua lenda do ser
No molde do teatro moderno
Cumpro meu papel com feitio
De fato em goma e falso estio
Mas que impeça desta breve estilha de vida
Dai-me então o pronto tiro
Enquanto está ditadura morta
Me dá preguiça.
Do Basque até a Sevilha
Cantabria é eterna lenda
Celta afora nesta selva de matilha.
Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio: A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.