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Apocalypsis

Divinae Revelationis ut S. Ioannes

I - De Olhos Fechados, à Beira do Lago

Quando sentir o fora
Exterior reconfortante
Deste rarefeito ar

Uma gélida régua de luz diante
Desdobrar-se-á
Raro efeito

O sentimento, empodera-se
Como se faz na beira congênita de uma noite confortável

O externo de si permeia
Denso como a certeza da trilha correta
Às beiras do refúgio ancestral.

II - Quando a Primeira Embarcação do Dia Passar

O espectro à ponta da cama senta
Ou espreita na ponta da mesa

Ele é tão sólido e tão presente que ali se faz
Mais pessoa do que a pessoa.

Pessoa pessoa
Companhia quando encuba
Quando dura e amadurece
Quando desenvolve-se e morre

III - O Guardião que sempre Dura

Pra esta canção que toda hora soa
Sua harmonia mais que previsível
A quem toda hora ouve enjoa

Pra esta canção que toda hora soa
O lamento  de ininterrupta negação
Sofre quem ora se dispõe a atenção

Pra esta canção que toda hora soa
Não é mais sonho senão imagem tediosa
Que faz o dia ser cinza, não cor de rosa.

Pra esta canção que toda hora soa
E é tão ruidosa que pouco se esquenta
Gela o cuidado, sofre ausente, arrefece.

IV - O Veneno Mais Doce de Toda Alma

A felicidade desta calçada está na simplicidade
De perguntar o próprio nome a cada dia que passa

A quem hoje se aquece na memória
Obliviare acalenta
Que houve a ventania que ontem bateu na porta?
Quem se importa?

V - Dies Dominicus

Celebremos o dia de todos os santos montados num lagarto banhados no vinho de todos os pecados

Amén

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

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A Praça

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