Pular para o conteúdo principal

Tempestade

Quanto tempo leva
Pra que este rápido relâmpago
Divida-me da cabeça aos pés
E já nem mais serei duas
Serei múltipla no revés

Este frenesi constante
Bate em mim como a uma megera
Não domo minhas dores
Não dôo minhas flores
Ah essa vida! Quimera!

Ah essa vida tão pura!
Mas estes olhos tão carnais!
Manchados com algo tão solvível!
Algo tão pouco guarnecido!
Essa linha contínua!
Atira-nos assim, entre o limiar da sede!
E da mais sublime loucura!
Ah essa condição desconhecida!
Que tortura!

Essa condição de ora servil de mim
Ora servil de escrava sua!

Qual a monção que a tempestade me leva?
Para qual selva hostil esta sina existe?
A vida que cresce, ela insiste
Mas e eu? Que desiste?

Ah esta vida que passa a ser só dor
Seja lá ela como for, vil ou pura
Enquanto fica em busca desse ópio
Vivo apenas em busca de cura!

Ah essa vida!
Que dura!

Postagens mais visitadas deste blog

Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.