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Tempestade

Quanto tempo leva
Pra que este rápido relâmpago
Divida-me da cabeça aos pés
E já nem mais serei duas
Serei múltipla no revés

Este frenesi constante
Bate em mim como a uma megera
Não domo minhas dores
Não dôo minhas flores
Ah essa vida! Quimera!

Ah essa vida tão pura!
Mas estes olhos tão carnais!
Manchados com algo tão solvível!
Algo tão pouco guarnecido!
Essa linha contínua!
Atira-nos assim, entre o limiar da sede!
E da mais sublime loucura!
Ah essa condição desconhecida!
Que tortura!

Essa condição de ora servil de mim
Ora servil de escrava sua!

Qual a monção que a tempestade me leva?
Para qual selva hostil esta sina existe?
A vida que cresce, ela insiste
Mas e eu? Que desiste?

Ah esta vida que passa a ser só dor
Seja lá ela como for, vil ou pura
Enquanto fica em busca desse ópio
Vivo apenas em busca de cura!

Ah essa vida!
Que dura!

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