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Da Estátua ao Pó

Acordo
O Coração está oco
Sinto tudo
Não sinto nada
Sento em nada
Não sou nada

Sento
Coragem errante
Erra por aí
Erra por ali
Erra pela estrada
Penso na coisa errada
Reconstrói e vai
O erro é a chaga

Não me levanto
Não sinto nada
Ninguém me escuta
Ninguém me sente
Ninguém me cheira
Ninguém é gente

Respiro
O alecrim e a menta
A planta e a arte
Eu sinto cheiro
Não sinto cheiro
Eu tenho cor, forma, fome e desejo
Eu não te tenho
Não tenho nada
Não temo nada

A onda anda
Por onde anda a banda Bandeira?
Eu ando na sua onda
Eu quero sonho
Vivo guerra
Ei vivo em pedra
Eu quero terra

Não sinto em nada
Não penso em nada
Não penso em mim
Oh vida errada

Eu penso em mim
Ninguém me toca
Ninguém me choca
A asa pórtica do amor
Se desfalece da paixão caótica.

Oh noite cólica
Caleja o peito
E sufoca!
Sonha e me solta
Teme a prisão
E me esfola
Eu sou homem de aventuras
Eu sou menino de escola!

Eu me sonhei
Eu nos sonhei
Eu te prendi
Te sufoquei

Piso só
Ando só
Estou aqui
Estou ali
Estou de pé
Virei pó.

2010

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.