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Plumas, Travesseiros e Correntes

Tu que com sua gentil armada
Abraça-me com o frio algoz
E vagaste-me a vida como em falta
Do ar que se exaspera
Na fria temporada.

Do escuro eu vejo
Crianças brincando lá fora
Qual criança que hoje reside
Na pureza da infância?
Cada riso estridente
É um agudo estilhaço ao peito

No calor da vida
Cada forma absorve sua luz
Mas o que faz é sombra

Sussurros arrastados
Por sobre o meu ombro
Soam rústicas no romper
De silvos silencioso
Como suspiro arruinado
Nesse rastro amargo.

Teu medo de perder-me
Solve-me na minha forma
O verso que o tálamo entope
Desperta o laço dessa força
Guilhotina-me em bala como o fosso
A úmida pele que resvala.

Pela magnífica onipresença tua
Que reside em minha vida
Como o amor dos meus sonhos de menino
Não me a pronto
Por ti morro de silêncio
Corroído no corredor
Das correntes

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