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Quantas vezes mais descerei ao inferno
Para ter a pele mutilada em intenso drama
Que se reconstrua do zero e ressurja
Sob a dura carcaça de uma dama?

Eu sei que a vida é aprendizado, eu sei disso. Mas quantas vezes mais terei eu mesma que me destruir, a cada vez que deposito minha fé em algo, ter minha alma despedaçada, sim, dessa forma intensa e degenerada, porque já não sinto mais a sutileza das coisas, e tudo é isso como parece, um eterno grito, um eterno berro de dor, e enfim ressurgir mesmo, como pessoa nova?

Eu estou cansada de ser uma pessoa nova, e estou cansada de ter meu coração apunhalado pelas imagens espontâneas dos meus desejos não realizados.

Quando será que vou conseguir me perdoar por não conseguir te perdoar? E quando será que vou conseguir não sentir mais pena de mim mesma a cada vez que eu te ver numa foto ou receber por um acaso uma mensagem que não foi direcionada a mim?

Eu tento, eu juro que tento te esquecer, tento fingir que você nunca existiu na minha vida, e às vezes esse pensamento me consola. Eu tento me convencer de que foi um grandíssimo erro ter me apaixonado por você. E às vezes eu me torturo com o pensamento de que eu queria você em meus braços, queria sentir o seu cheiro, queria ouvir a sua voz e saber das suas histórias. Eu fico ressentida e me corroendo pela inveja mais nojenta de saber que você tem mais força pra recomeçar do que eu.

Eu já não me vejo mais, no momento, com vontade de sair por aí com os amigos, e apenas sorrir. Eu tenho medo de me jogar de novo numa tentativa de felicidade que vai me destruir completamente.

O que eu mais desejo a mim mesma neste momento é apenas morrer para não sentir mais nada. Eu abro mão da felicidade e do amor, da paz, das emoções empolgantes da juventude que diz adeus, apenas pela tranquilidade do não existir mais. Que sentimento tentador.

O desespero toma conta de mim, a ansiedade me sufoca, a respiração me falta, porque você não me quer mais, porque você não me quis mais, me jogou para fora da sua vida de uma forma muito cruel, e eu não quero ser egoísta e pensar que foi cruel apenas para mim. Eu sei que foi difícil, e eu sei que a dor que tudo isso me causou me transformou numa pessoa horrorosa.

Eu não sei se quero que você me perdoe, ou se eu quero voltar no tempo e pedir: por favor não vá, por favor eu imploro, fica porque eu te amo demais, porque eu sei que podemos ser bons um para o outro. Por favor fica porque eu não quero te machucar, eu só quero a alegria de te ter perto de mim. Mas agora eu sinto que já é tarde demais, e esse pensamento, de que o tempo já passou, de que a chance foi perdida, isso me mata. Existe apenas uma coisa que nos impede de que as coisas fiquem bem de novo, que é o orgulho de não querermos admitir os nossos erros.

Eu não tenho mais vergonha meu amor, eu não tenho. Eu sou horrendamente errada, e no meu coração eu clamo todos os dias por um perdão que você nunca vai me dar. Eu não sei como parecer uma pessoa digna, porque manter a firmeza parecerá que eu não me importo, e pedir o perdão vai parecer que eu me humilho por você, e nenhuma das coisas te agrada.

Eu só quero parar de sentir todas as emoções do mundo dentro de mim toda vez que eu penso ou vejo a você.

Eu queria muito que todos reconhecessem no outro o humano que existe dentro de nós, como estou reconhecendo agora, tardiamente. Ao menos que diminuísse um pouco este meu tormento de ter te conhecido. Quanto tempo mais a minha vida vai me custar pra que eu te esqueça ou pra que eu te tenha de volta (o que nunca vai acontecer)?

Eu sinto muito por ter feito tudo errado.

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