Pular para o conteúdo principal

Garota Parnasiana

Aproveitando que esqueci de desativar da minha agenda que esta era a semana do seu aniversário. Que lembrança péssima.

Caí na realidade de que você não é tão incrível quanto eu pensei que fosse. Você é rasa. Nada do que faz tem profundidade ou essência de verdade, é apenas o espetáculo pelo espetáculo, o que casa bem com essa geração neo Parnasiana que não sabe o significado de conquistar, apenas de exigir. Ser notável apenas por ser conhecido, pelo externo, pelo vazio e falta de propósito. E é com essa correspondência que a verdadeira arte há de ser enterrada sob quilômetros de futilidade e falsidade. Mas é isso, esse mundo foi sempre um espetáculo muito sem substância do qual você é, pra mim, hoje, uma grande representante. Esta geração vazia e sem propósito que se veste de escândalo após escândalo atrás de escândalo, escondendo suas mais perversas personalidades antes de um barulho que desorienta, e fica difícil de raciocinar num pensamento de resposta. E a ausência de resposta dá o silêncio como verdade, como se toda fala que não é rebatida fosse a fala final, aquela que será a história oficial das coisas, mesmo que não dialoguem com a verdade, apenas uma verdade das aparências, a opinião conveniente, parcial, que se alimenta das migalhas e fagulhas que constrói o frágil castelo de convicções equivocadas que muitos de nós precisamos pra acreditar que nossa vida tem algum propósito. Isso é bem patético. O propósito moldado por um futuro idealista que nunca vai existir, enquanto o presente fica jogado às traças. Repugnância.

Este mundo vive sempre em direção a um nível caótico de desinformação, assustadora, mas antes eu me via como vítima dele, até me dar conta de uma coisa, de que a melhor arma contra o medo é o deboche, portanto rio dessa visão patética de que o respeito é exigido. Não querida piedade, de forma alguma. O respeito deve ser conquistado. Eu rio com desprezo na cara dessas expressões insípidas com filtros digitais e frases de efeito, que escondem um desespero de manter uma imagem que não vai sustentar a realidade, que é fajuta. Eu não tenho medo da realidade: pois tirem-me as roupas e mostre-me nu, e veja as falhas do meu corpo, os defeitos do meu corpo que está envelhecendo, é parte da natureza. A natureza sim, é implacável, sem controle, esta sim é digna de respeito com suas molduras sem forma coerente, mas que tem uma razão em si mesma, a de manter os sustento da vida. Árvore árvore, água água, montanha montanha, ar ar.

Que eu não negue nunca a natureza por uma foto cheia de caras e bocas que me registrará numa pose, aquilo que não é a verdade, o espetáculo de mim mesmo. Eu não tenho medo de sentir dor e nem da tristeza angustiante que me faz perder toda a dignidade. Os ventos sopram para lá e para cá, e eles sopraram pra cima de mim; dê-me o inferno e o fogo, o enxofre, o ácido e o veneno da serpente, e as correntes da escravidão, e minha liberdade resistirá, porque ela consiste em sempre manter-me fiel a mim mesmo, em primeiro lugar. Não fui anarquista por apenas pintar de batom o símbolo numa estação de trem. O meu anarquismo resultou de anos de luta e anos de resiliência perante o julgamento, da abstenção do medo de ser humano acima do ser alguma coisa. A construção da personalidade da forma natural e negacionista daquilo que me jogam num barulho ensurdecedor de milhões de pessoas ditando aquilo que deve ou não deve ser. Respeito deve ser conquistado, não exigido. Eu não sou obrigado a respeitar algo que eu nunca ouvi falar antes, ou que choca e fere a minha noção de existência. Não é o que dizem por aí? Se fere minha existência, serei resistência? Se isso tem que ser dado como máxima verdadeira, então ela deve se aplicar a tudo, absolutamente tudo. Vê-se o descuido de sair gritando regras por aí? Se algo deve ser uma regra, ela deve funcionar para tudo e ser do direito de tudo. Se seu conservadorismo fere o meu anarquismo, serei resistência. Se seu anarquismo fere meu conservadorismo, serei resistência. Se sua liberdade fere meu autoritarismo, serei resistência. Algo tão hediondo só poderia ter origem numa época em que as pessoas repetem tudo sem pensar no que estão dizendo. Como deveria eu ter respeito por uma noção tão infantil da vida assim? De pessoas adultas que se recusam a crescer? De pessoas jovens que encaram a vida adulta com desconfiança como se fosse um grande mal? Uma resistência pobre por algo que é inevitável? Pois a vida adulta é o resultado de tudo o que plantamos na vida mais jovem, e eu, narcisisticamente, admitidamente egocêntrico, digo com todo o orgulho do adulto que sei que me tornei. Tudo o que acumulei ao longo dos meus pobres e poucos anos de vida, eu dou de volta, o meu conhecimento não vale de nada se ficar preso dentro de mim mesmo. Meu conhecimento não é máscara, é amor.

Eu não preciso de um milhão de amigos para saber o que é ter amigos. Para mim já me bastam os mesmos amigos que eu conheço desde que tenho 14, 15 anos. Sim, eu sei o que é amizade, tanto sei que jamais riria das dores destas pessoas nos momentos mais difíceis, e jamais lhes viraria as costas por vaidade ou por sentir que a minha falsidade está sendo ameaçada. Somos todos uns bandos de falsos, mas apenas alguns de nós temos a coragem de admitir isso.

Como é covarde chutar a ferida de quem já está machucado. Covarde porque é fácil. Pois venha agora, venha me chutar agora, apenas experimente. Conforme eu disse, os ventos sopram para lá e para cá, e agora minhas velas estão abertas, eu não sou um barco a pesca, sou um galeão forte e rumando com ferocidade pra costa. Eu sinto pena dos que ficarem na minha frente. Eu resisti, ressurgi. Eu te desafio, apareça agora! Se quebrar a beleza que é a sua forma de estátua por dentro não encontraremos um coração e nem um cérebro, estarás completamente oca, eu que já estive dentro e fora de você, posso assegurar-me disso. Eu que já conheci pessoas de substância e profundidade inalcançável, digo que você não é de forma alguma uma pessoa incrível. É apenas uma droga alucinógena que nos dopa da realidade. Ouse vir agora! Qualquer um de vocês, ousem aparecer por aqui!

De toda a geração artística que a nossa vida moderna nos trouxe, o parnasianismo é o que mais esteticamente agrada, mas quando desvendamos os seus significados vemos que não tem nada. É a arte pela arte. Disso, que vim das periferias e convivi com a miséria e a dificuldade da desvantagem perante os meus próprios, não, isso eu passo. Eu quero a arte que movimenta e que emociona, e pessoas que representam esse vazio, serão aqueles que se preencherão de uma total ausência de significado. Não existe conquista sem uma parcela de dor e sofrimento. Não existe, nunca existiu, não importa quantas gerações venham, as coisas existem e perduram quando existe trabalho e dedicação. Chorar apenas, isso é algo que apenas os fracos fazem. E os fracos eu piso e passo por cima. Não lembre de mim, não fale de mim, não cultue a minha memória nem que seja para destilar o que é amargo. Eu não faço questão de permanecer na eternidade das mentes pobres que tive o desprazer de conhecer. O meu deboche maior é que se você se esquecer de mim completamente será o meu maior presente e benefício. Por isso muito obrigado por fingir que eu não existo, eu fico muito feliz por isso. Nunca quis ser lembrado, os que me conhecem de verdade sabem disso. Se eu deixar de existir na vida das pessoas é porque quero que elas sigam em frente. Não quero ser lembrado pelos que eu amo, agora faça uma ideia do que eu espero de você e toda a sua trupe.

Adeus, pessoa  nefasta, adeus companhias venenosas, adeus garota parnasiana.

Postagens mais visitadas deste blog

Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.