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Elogio do Elogio

Envolto-me na insossa chama do sublime verso
Insossa por presente mazela incompreendida
Sublime pelo indigno empréstimo

Desta ainda que tardia sublimação
Não merecida, revogada ou incumbida
Ausente de razão, clamo.

Donde vem os seres sem estima?
Onde estão os seres de virtude?

Estão em si mesmos perdidos e iludidos
Na conquista de uma perene fama?
Retornamos aos tempos do frenético niilismo?
Da estúpida e anônima culpa de Goethe
Quando queda uma vida pela inútil ambição
De ter gravado o seu nome
Nos tortos e disformes corredores da história?
Na notabilidade em que cada resto de alimento repara ter em si
Um nome de importância.

A virtude na virtude dos homens tortos.
O panegírico do panegírico
Inflamação de elogios e pleonasmos
Chama que não queima
Água que não sacia
Paixão que não se agita.

Dai-me a sutil beleza do silêncio
Prometo que devolvo-te a maçã
Ou o fruto do Éden
Pois saber o que não se sabia
Soube-se menos cada vez mais.

Quanto mais se parece
Que o espaço se descoberta
Mais espaço se descoberta
Aqui dentro
Vida e morte que se confundem
Em uma inflexão de números
E agitos do espairecer

Enquanto todos falam
Calar-se é um ato de rebeldia.


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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

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