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Mindfulness de Botequim à Tarde

A voz que para dentro clama
Aquela que todo mundo escuta
Um som que se arde em chama
Abre-se em fissura uma gruta

E diz olhai o túnel interior
Caminha pelo escuro, confia
Segue lento no chão ardor
Sente na pele o sussurro, espia.

Arrasta pela negra galeria
Este pé que pesa de insistência
Não há nada lá, não há nada lá
É a repetição dessa confidência.

A quântica teoria nos diz
Tem algo que no descontrole
Teima em controlar
Luz arde chama

Alegria alegria
E o Sol nas bancas de jornais
Ninguém se lembra
E nem sabe do Sol.
Só do sangue
E do pó que vieram estes homens imortais.

Um homem dos informes, um jornaleiro
Escuta moço, quanto custa o isqueiro?
Leva aqui rapaz, não te esquece do cinzeiro.

Fim do  almoço de arroz, feijão filé,
Vai um café?
Quanto foi? Perdeu de novo?

Vai descer motorista
Resmunga puto manobrista.

Carta boleto ferro de passar jogo de botão
De rosa caída escada vez que se sai
Vá mais falo centro peça de teatro!

No fim do túnel, um lar em chamas

No fim do túnel interior
Encontra-se o abismo excretor.

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

Caminha entre alamedas tortuosas E a abóbada de bosques sigilosos Adentro a mata o encanto avistai Repousa obliterado o grande lago. E largo encontra em límpido repouso Defronta diante em margem distorcido Silêncio com remanso se emaranha Enigma malcontente insuflado. Atira-lhe uma pedra e de onde em onda Emergirá um monstro adormecido Até que venha o próximo remanso Até que a fenda em sangue desvaneça.

A Praça

Chegando na praça central Ouço os ecos e os rumores De uma vida que parece outra Os risos de andarilhos sem caminho Os caminhos de passos tortuosos O desgaste do que antes fora arte As estátuas sem nome Os nomes nas placas sem história Folhas caídas pelo chão  Os recortes no ar, de galhos retorcidos Ominoso, lugubre e risonho Será que um dia voltarão a florescer? A cada suspiro uma mão distante me acena Miragem ou ilusão, um consolo de memória. Por que tão vazia? Por que tão pouco visitada? Por que assim, remota, esquecida? Cercada de casas sem família Cercada de muretas sem ter o que proteger Nesta praça de ruas que não vão e nem chegam Somente o velho reina Meu filho, diz o vento, é assim mesmo. Quantas vezes soube tu, alguém que guardasse teu nome? A praça tem som de tranquilidade e cheiro de saudade.