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Gênesis

Meu Pai, Meu Divino Pai

Tua autoridade
Cuja retumbante voz
No eco do meu coração
Impera

Erigiu em mim
Nesta oca urna
De pó e água
Me falha

Teu servo
Confuso, quem, sou
Parte em carne e sangue
E etéreo ar da vida

Teu ermo
Rouba  o que a Ti pertence
Só não a tira
A vida

Ela é Tua
Ela é Minha
Ela é de Quem Quiser

Na subserviência
Uma fenda aberta
Não quebra a urna porosa
Rachada pelo vil portento

Diga-me o Que quer
Deixai-Me só
Sob Teu eterno alento.

Meu Pai, Meu Divino Pai

Entro em Tua Barca
Carregado Até a Montanha
Ermitão dos Gafanhotos
Falando em Muitas Línguas
Braços de Urso e de Mel
Nas Cidade Luxuosas
Tempestade de Fogo no Céu

Tua vontade em mim
Me dói
Em Tua promessa
Paciente aguardo
Confio
Meu Pai, meu Querido Pai.

Estive Lá
Estou Lá
Estarei Lá
Estarei sempre Aqui.

Falo em Uma Língua
Talvez A Mim Não Entenda
Olhai para Mim
Teu Povo meu Pai!

Preencha de Pó
Mas dai-Me a Água
Em minha boca
O Teu Sémen Divino
Deságua.

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

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A Praça

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