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Magia Negra

E se fossemos capaz de lhes devolver tudo o que lhes roubamos
A voz
A música
A luz
A alma
O direito de ser humano
Mas não posso
Posso apenas ajoelhar enquanto passas
Deixa-me, por favor deixa-me
Deixa-me transbordar toda essa culpa
Esse peso
Deixa-me mostrar o que é ao menos uma vez
Ser grande diante dos outros

Entendo a pequenez do gesto
Mas é a humilhação voluntária
De que não suporta teu sofrimento
Abro-te as portas para passar
E deixo que todos os palcos se esvaziem
Até que canses de tanto gritar
Até o fim da minha existência
Perdão

E quando perguntam do menino
O do morro?
Queria que fosse vivo
E é.
Mas não precisa de mim
Não precisa da minha licença
Ou da minha permissão
Isso é só voto de consciência
O alarme de uma alma que sofre
E se compadece
Se me quiseres na batalha
Lá estarei
Mas sei que tens punho

Força
Voz
Alma e Coração
Peço-te apenas
Por tanto que lhes roubamos
Perdão

Por inveja do feitiço ou da condição
O tanto que nos deste
A vela dessa traição
Peço-te apenas de joelhos
Um arrependido perdão

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Bucolismo

Com tua carroça cheia dos restos da cidade O catador para diante da margem do rio É um rio largo, escuro, mal cheiroso Ele observa o reflexo nas águas, suspira e vai embora: - Esse rio é tipo um abismo. Todo dia passa ali, com tua carroça colorida de catador. A engenharia é uma piada tecnicista Tem uma TV quebrada Num celular, uma antena de carro, só por ironia Um CD de um grupo de Axé que já acabou - o resto de uma alegria do passado - Uma boneca vestida com roupa de mecânico Restos de móveis Restos de roupas Restos de memórias fragmentadas. Ele mira o reflexo nas águas, suspira, e vai embora: - Esse rio aí, é um imenso abismo. Todo dia é a mesma coisa. Do outro lado da margem do mitológico rio:  A vista bucólica de um jardim bem cuidado Casas em seu devido lugar Pessoas em seus devidos lugares É tudo como se fosse um sonho. Ele olha as águas, se vê no fundo distorcido, suspira, pega sua carroça e vai embora - Um dia atravesso o rio. O rio é quase sem fundo e quase sem vida.

O Lago

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A Praça

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