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Domingo do Senhor

Domingo do Senhor

É dia de varrer a casa.


Ouvi, há muito tempo, um estrépido troante

Como o som de um vaso oco estilhaçante

E era mesmo um vaso a princípio muito ornado.

Ou quem sabe era a forma de uma estátua

O abedé de uma deusa, Euterpe, Calíope, Psiqué ou Erato.


Quanto tempo que esse estrondo aconteceu?

Foi descuido ou a força de um grito?

Foi um tombo distraído, ou força do hábito?

Ou quem sabe uma palavra mal pronunciada

Titubeia pela pressa de pouco perceber.


Será que ninguém notou

Todos os pedaços espalhados pelo chão?

Pai, mãe, filha, companheira

E a carne que espeta nossos pés

O sangue entrecruzando nosso rastro?


Faltou coragem

Faltou muita determinação

Encarar o meu pedaço

Num fragmento ensanguentado pelo chão.


E hoje, que nem era Domingo do senhor.

Hoje que era um dia qualquer...

Todo dia se parece

No Domingo varrendo os fragmentos.

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