Pular para o conteúdo principal

Para uma eterna e grata saudade

Joanesburgo parece tão longe hoje...

Isabelle, minha flor,

Ainda me pego rezando por ti — não como quem pede algo, mas como quem agradece.

A vida aqui anda árida, e confesso: há dias em que o Evangelho me escapa pelas frestas do cansaço. Mas quando lembro de ti, é como se um versículo esquecesse de ser lido e resolvesse florescer por conta própria.

Às vezes, minha mente me trai, e volto àquela varanda onde teus olhos tinham o dom de calar todos os ruídos. Nosso silêncio era comunhão. Nosso riso, liturgia.

Eu nunca me ressenti de ti. Nem por um segundo. A tua partida me fez mais homem, mais servo, mais inteiro. Porque te amar foi a primeira vez que entendi o que era doar-se sem esperar retorno.

Não me cabe saber os desígnios de Deus. Mas se houver espaço, um dia, para cruzarmos nossos passos de novo, mesmo que apenas num abraço, saberei que foi Ele, mais uma vez, abrindo mares onde antes havia pedra.

Onde quer que estejas, que teu perfume de pêssego e teus cabelos com cheiro de rosas sejam bênção para quem se aproximar. E que quem se aproximar, que saiba cuidar de você como a Flor que você sempre foi pra mim.

Com todo o carinho que jamais se perdeu,

Teu Estevão 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Erospectro

Dança a débil seda da cortina em altivez Acaricia, enquanto sôfregas, balança O alabastro lívido de porcelana tez. Ajoelha ante a luz da superfície pálida Princesa portentosa do teu estreito templo Aporta em silhueta a majestade cálida. Anda, paladino, sobre a laiva curvatura Forrada do plantio de calêndulas laranjas Descansa à boda quente da lacuna escura. Venera esta abadia, pétala a pétala Diante da minha dupla onírica imagem Repousa em cada vale de divina sépala. Despeja-me o orvalho em êxtase, a coroa, Na carne-alvura arqueja em nosso infausto cio, Em véu e labareda, um altar, uma pessoa. E quando finda a música, resta-me a visão: Princesa, diabo, luz, deleite em união, No espelho sorridente à criadora perdição. 

Tua Palavra

Palavras como fios E teus dedos costurando Um caloroso manto Para minha sombria alma. Palavras, que como pão Desta tua fome tão antiga Onde cada sílaba que canta Vira a ceia da minha calma. Palavras, como tuas mãos Que quando escreves meu nome Eu sinto O calor do teu gentil enlaço. Palavras como a brisa A brisa que a mim veio  No alívio das noites infernais Na doçura dos teus braços. E se ousa um dia duvidar Da força daquilo que escreve Lembra: O mundo que é só trevas A vida que era nada Tudo começou, até amor Pela Palavra.

Sacrum Putridaeque

  sacrum putridaeque "Animae exspirant, redire nolentes... Sed redeunt in sudore, dolore et metu, formam suam relinquentes." ✝ Invocatio Sacroputrida: Vox Ultima Ex Reliquiis ✝ Substância em ardência Como que em condenação Ao inferno da tua ausência. De seu cílio cai o lastro Da aurora poma aberta Afligida ao omisso mastro. Minha boca sente a míngua Pela privação do tato Da oração com tua língua. Numa parte sem ritual E eu aqui que só me encontro Do meu gozo sepulcral O meu tédio, meu remanso Invocatio sacroputrida Sem perdão e sem descanso! Ora em mim sem castidade Faz-me diário do teu ímpeto, Sem decência ou piedade! ================================================== Invocatio Sacroputrida: Vox Ultima Ex Reliquiis Substantia in ardore Quasi damnationis Ad infernum absentiae tuae. De cilio eius cadit onus Aurorae pomum apertum Afflictum ad mastum neglectum. Os meum sentit inopia Privatione tactus Orationis cum lingua tua. In parte sine ritu Et ego hic solus invenior Gaudii m...