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Sobre as Coisas que Morrem sem Ruído

 Por Estevão Bruno Steiner

Nem toda morte vem anunciada com gritos. Algumas coisas morrem em silêncio, desvanecem-se como a neblina ao amanhecer, sem que ninguém perceba sua partida.

São as relações que se esvaziam lentamente, os afetos que se tornam vazios sem um motivo aparente, as palavras que não são ditas, os abraços que deixamos de dar. Essas mortes silenciosas doem sem nome, deixam feridas sem cicatriz, ausências que pesam como o silêncio.

Aprendi que não é preciso alarde para sentir saudade. Nem sempre a falta se expressa em lágrimas - às vezes, é só uma sombra que acompanha o dia, um vazio que se insinua na rotina. Não guardo rancor por essas partidas mudas. Elas fazem parte do caminho, do aprendizado de que nem tudo o que começa tem um fim glorioso. Mas que, ainda assim, merece ser lembrado, respeitado, acolhido.

Pois há beleza também nas despedidas caladas, e força em continuar, mesmo quando o silêncio é tudo o que resta.

Estevão Bruno Steiner

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