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Barca do Breve Retorno

 Vesti meu guarda roupas

De roupas já usadas sem pressa

Lavei as roupas novas

Sob as águas de incerta promessa


Cobertas no varal

Caiu em mim a luz

Nem tudo é vendaval

Tudo, ainda que não rime, é passagem

Atenda, ainda que doa, ao pedido

Só dá, amigo, um pouco de coragem.


Segue além as barcas que subimos

Param nos portos

Encalham no mar

Ou afundam no abismo

Mas não,

Não afogue-se em melífluas tristezas

Caem as pétalas de flor

Sobram os espinhos

Florindo ainda com belezas.


Veja, eu tenho a certeza

Agora sim, agora o remo pesa

Mas não é uma penitência

Não é castigo.

É só caminho da nossa natureza.

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