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Oração a Quem Floresce Longe

Senhor, que sonda os pensamentos

Do homem na balança

E pesa cada lágrima que cai no íntimo fio

Recebe está memória como incenso tardio

Este amor, que já não arde, mas está sadio.


Na janela da vigília passou esta manhã

Um feérico jardim que o nome dela segredava

Diz gentil, sem pronunciar palavra.

Adentre as vinhas de um tempo que passava

Havia uma sombra de sorriso emérito

Não meu, não mais

Mas santo, santo e impérito. 


Caiu sobre mim como a chuva do estio

Nem para semear, nem para colher

Mas para ensinar em som vazio.


Amei, Senhor, amei confesso

Talvez não soube como amar correto

Mas deixo agora aqui o vaso aberto

Prosto ante Teus pés clementes

Nutrindo a fé da paz que não me coube

Venha das mãos de jardineiro presente.


E se um dia olhar para trás

Que veja em mim a luz

E não ferida.

E se um dia orar 

Para aliviar o seu cansaço

Que sinta Teu espirito em resposta

À ausência de um abraço


E que floresça

E que semeie

Mesmo que em terra de outrem

Que em tudo Te descubra

Como eu a desvendei

Quando ainda Te buscava em sua fronte.

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