Ou é vontade de morrer
Ou pode ser só a gravata
Uma vermelha que combina com o matrimônio
Uma verde, ou uma nata, que tem lá seu senso de humor.
Ou pode ser, e isso quase ninguém percebe
A pressa de quem espera um ônibus
Destes que atrasam além do esperado
Enquanto o itinerário passa três ou mais vezes
Da linha que está do lado.
Sempre quando é a minha vez!
Ou pode ser uma chuva fora de hora
Ou calor na estação errada
Pode ser aquela memória presa
Que de repente vem raspar o sentimento
Até deixar em carne viva
E virar depois um ferimento.
Pode ser só, quem sabe, um passo a mais
Erra a rua
Entra na loja nova
E a vida segue, mesmo assim.
Aqui pode ter a gravata da cor que quero.
Ou pode ser só assim mesmo:
Dez anos atrás
Quando pisava aqui todos os dias
Este edifício estava
Dez anos atrás
Hoje já não está mais.
Então pode ser só isso
De nunca ver, nunca mesmo
Duas nuvens com formato igual
E quem para pra memorizar estas coisas?
Pra guardar aquilo que todo mundo diz
Esquece isso
Você só era criança
Então se a nuvem parecia coelho
Ou parecia pura lambança
Tanto faz, já foi.
Pode ser que nem mesmo
E isso nunca me disseram
Eu precise usar gravata
Pode ser que eu case de chinelos
Ou não case com ninguém
Pode ser mesmo
Que esse é o padrão de tudo
O ar fresco, livre, solto
É só um bônus
Pode ser que o veneno seja a lei
E pode ser isso mesmo
Nesta alta investigação
Depois de ter andado tanta calçada
Já não sei se sou eu
Ou se é no espelho, ou vista embaçada.
E pode ser que quem chega até aqui
Nem mesmo, não é mesmo?
Eu
Tu, você
Ele ou ela
Então quem?
Pode ser que nem jamais.
Então,
Senta
E descansa
E não tenta mais.
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