Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Confissões

Raio-X Número 1: O meu direito de egocentrismo

Não tenho muitos amigos ou simpatizantes, e os poucos que tenho vejo com tão pouca frequência, mediados apenas pela rotina, pela irreparável e inescapável rotina. Sou um antipático nato. To dizendo isso não porque eu gosto de ser assim, mas porque essa condição me incomoda e eu tento contorná-la diariamente, muitas vezes sem sucesso, porque a visão primeira de todo mundo é pior do que religião fundamentalista. Mesmo que você fique nu diante de todos, elas não querem saber, você vai ser antipático. Você vai ser mais você mesmo pelo que os outros estão dizendo de você do que o que você diz de si mesmo. Essa é o meu maior obstáculo na hora de me relacionar.

Sobre Inveja

Sempre achei medíocres as pessoas que ficam preocupadas com a inveja alheia, talvez por eu ter uma mente tão ocupada com coisas mais importantes que não me parece que tal coisa, inveja, possa existir para mim. É foda... hoje comecei a entender um pouco disso e realmente dói. Não é medíocre quem foge da inveja, medíocre é quem vive em função disso.  Para estas pessoas eu só preciso dizer: procurem algo melhor para fazer da vida. Ninguém cultiva nada esperando que a horta do vizinho seja destruída. Essa de distorcer verdades porque você não tem amor próprio pra contribuir com sua própria vida, isso é muito pobre, pequeno. Vivemos num universo muito vasto. O que faz sua atitude e sua opinião parecerem tão fundamentais assim? Se precisar de ajuda, conselhos, eu sou ótimo pra isso, faz parte do meu ser querer ajudar os outros, da melhor maneira possível, mesmo tendo a certeza de que nunca me agradecerão por isso. Sem ressentimentos. Mas não espere a destruição de pessoas boas que ta

Despedida [ao senhor Jesus]

Na imagem de um deserto impõe-se a mim aquele homem Caminhando em trapos sob vento arenoso Sua humildade antecipa a natureza Sua tez amiga pede-me um abraço Quem diria ao ser Escravo dotado de uma imagem Por um homem que já morreu. Se morro no abismo ou no morro Ou se morro no chão Morrerei só Não me dê consolo ou a mão Se não me puder dar a vida. Largo esta cruz no chão Que na verdade nunca foi minha obrigação Carrego o peso dos próprios ombros E da própria imaginação. O vivo em função do sonho Moribundo caminhante Zumbis zombadores dos passantes Vivo em função do chão. Não, não posso voar Não podes sonhar o viver Vive o pensar. Esse teu pranto desnecessário Repugnante! Comisera-se o teu espelho E nosso espelho não é senão a nossa imagem. Quando morrer não pede o céu Não temais os anais terrenos da divindade Não temais o amoque pela tua falsa liberdade O tempo não passa senão a mudança de todas as coisas De nada vale pintar o instante Que não o

Cálice

Esta canção tem suas raízes históricas na repressão da ditadura em relação à liberdade de expressão, como muitos sabem, a proibição de poder manifestar o seu pensamento livremente. Penso que quando observo a sociedade atual, percebo que muitas coisas não mudaram, apenas foram mal disfarçadas. Fazem nosso povo acreditar em uma falsa autonomia de pensamento, e provavelmente a maioria não se sente reprimida porque sabe que pode dizer o que pensa, e por tal razão, muitos acreditam que a liberdade de expressão realmente acontece. Isso seria válido afirmar se o que a maioria da sociedade pensa e expressa fosse digno de atenção. É claro que o que se vê é unicamente a manifestação da futilidade, de observações pequenas a respeito de um cotidiano limitado e que só faz sentido para quem se manifesta. Além do que, parece completamente proibido alguém se levantar e tentar trazer clareza a algum assunto polêmico, os mesmos assuntos que são tratados com tão pouco caso e respeito nos meios de c

Bibliografia do Olhar

Caia nas profundezas da poça d'água No mais fundo do lago Vire à esquerda Nade duas braçadas pare respire pense mais forte repare pire não há ordem o mundo lá fora palavra escrita solta o som preso o corpo preso a alma presa Ali está o coração

Um pouco amargurado, entende?

É assim, to amargurado um pouco. Hoje à tarde um colega do trabalho que eu poderia chamar de amigo não fosse o pouco tempo que passamos juntos veio me falar de como dava suas aulas, e eu que achei um pouco agressivo quando ele quis ser realista para uma turma que tem preguiça até da própria preguiça. Eu o repreendi mas no fundo eu concordo entende? Era pra ser engraçado, mas quem vier aqui com espírito de esconder as emoções simulando com comportamentos significativos, então dá o fora. Não to mais pra isso não, entende? Cansa a mente o dissimulacro, onde nem mesmo um aperto de mão passa despercebido de uma significância. É só um aperto de mão, sacou? Só! Não é preciso que se escreva uma tese rebuscada de coisas que todos já sabem há eras da história humana. De repente minha máscara cai também, e sabem, o que carrego por baixo dela não é bacana, não é legal. Os mais fracassados ficam com medo, rebatem com grosseria, rebatem com defesas prontas, como se fossem todos cheios de cu

Éter meu para Bandeira e Bashkirtseff

"Uns tomam etér, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. Tenho todos os motivos menos um de ser triste. Mas o cálculo das probalidades é uma pilhéria... Abaixo Amiel! E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff."* Já dizia o poeta. Qual é então o motivo da minha tuberculose? Qual é então, o às vezes que me persegue, retorcendo o bem estar? A ferida que não cicatriza, as marcas da autoflagelação. O acesso ao voluntário sofrimento e horror. Se fosse um aleijado de pernas, não andaria. Maria Bashkirtseff ficou famosa por sua profunda tristeza e pelo relato fiel de sua miséria tão comovente e semelhante. Seremos todos cadáveres vivos? Éter meu para Bandeira e Bashkirtseff Uma estrela Duas estrelas Cinco estrelas Dez estrelas É de manhã Ainda teimo em contar estrelas. Um peixe Dois peixes Cinco peixes Dez peixes No aquário do restaurante de frutos do mar Teimo que estou no Oceano. Uma ave Duas aves Cinco a

Do câncer da minha alma

Eu navego de foto em foto, de fato em fato, sedento por um espaço naquela brecha, naquele local. Deus do céu, quanto é preciso para que um homem enlouqueça de solidão ou de saudades? Ou como se chama mesmo aquele sentimento obscuro de uma saudade dos lugares que não estivemos. Fotos antigas dos amigos... não mesmo, elas estão todas presas na minha memória. Estas fotos senhores, elas não existem. Pouca diferença faz aquilo que pensamos, ou o que sentimos. Tanto faz os pensamentos profundos quando na verdade queremos só esquecer de todo esse lixo que é a vida. Voamos como urubus de podridão em podridão, é assim mesmo ciscando, nestes tempos de incertezas, procurando os nossos pedaços. Ah Deus, há quanto tempo abandonamos os aconchegos de nossos corações e caímos no conto mal falado das ilusões? Inteligência, beleza, carisma, tudo sem provas, para que precisamos delas? Eu só gostaria de saber o quanto alguém precisa de mim sem que eu precisasse provar a minha qualidade ou utilida

Não sou obrigado a querer água

Sou jovem demais para algumas coisas que andei descobrindo nesta vida. Sou jovem demais, talvez, para viver sob verdades absolutas. Entretanto, a filosofia teimosa, por mais que ela insista, não consegue me convencer plenamente de que ao menos algumas não sejam, absolutas, eu quero dizer. "A vida é feita de escolhas." Está aí uma delas. Coloco entre aspas porque é uma frase que mesmo o mais sábio dos mais tolos conheceria. Entretanto o processo estupidificação dos nossos valores mais profundos está tão avançado que é lamentável, mas hoje em dia só podemos dialogar a partir do mais óbvio. O mais óbvio neste caso seria aquilo que eu acredito como o pensamento fundamental. Não tem nada a ver com valores pessoais, não tem nada a ver com as nossas crenças, mas as escolhas, elas sim fazem o que nós somos realmente. Esta noite saí da casa dos meus pais e prestei bem atenção naquele olhar da minha mãe e da minha irmã. Reparei bem na voz preocupada do meu pai, por causa

Bullying - Parte 2

Peço licença raros leitores, para ser ao mesmo tempo informal e adentrar neste assunto tão desagradável de novo. O meu relato não foi um desabafo com a capa de "eu sou a vítima do mundo". Acho que as pessoas não entenderam a minha intenção. Não tive idéia de por nomes numa lista negra esperando uma vingança que jamais aconteceria, por motivos extremamente lúcidos, entre eles: com a mentalidade de um adulto eu entendo que para muitas pessoas que presenciavam estas atitudes, tratava-se de inocentes brincadeiras de criança. Outro ponto a salientar é que naquela época, no Brasil, o bullying sequer era discutido. Enquanto no exterior este problema foi diagnosticado e muito pesquisado nos 70, no Brasil, só passamos a falar de Bullying em meados dos anos 90, ou seja, na minha época de escola isso ainda sequer era assunto para debates. E por fim, a questão que quero colocar aqui é: as marcas ficam, as pessoas não. Não me refiro àquele discurso comum do tipo: "não po

Meus Bonecos Ainda Falam

Bullying, as marcas ficam.  Lembro que uma vez li esta frase e foi como me balançar da ponte, porque perdi um pouco a respiração e fiquei atônito. Puxa vida, era pra tanto? Pois é, todos os nossos erros do passado já tem seus devidos nomes hoje. Imagino quais nomes darão para aqueles que ainda estão por vir. Parece até um pouco de egoísmo e orgulho guardar por tanto tempo um monte de feridas e rancores, guardar nomes, rostos, imagens de momentos dolorosos do passado. Pois é, nós guardamos. Hoje sou professor, eu percebo no olhar aqueles que sofrem com este crime social. Crime, pois é o único nome que eu posso dar a esta hedionda atitude que passa despercebido pelos olhos de tantos adultos tolos. Desprezível. Compartilho com vocês, meus raros leitores, uma experiência pessoal, das várias que vivenciei e presenciei, relacionadas ao que hoje chamam de Bullying: Era o ano de 1999, eu estava na oitava série de uma escola chamada Escola São Vicente de Paulo, na região do Capã

Meus Bonecos Ainda Falam

Bullying, as marcas ficam. Lembro que uma vez li esta frase e foi como me balançar da ponte, porque perdi um pouco a respiração e fiquei atônito. Puxa vida, era pra tanto? Pois é, todos os nossos erros do passado já tem seus devidos nomes hoje. Imagino quais nomes darão para aqueles que ainda estão por vir. Parece até um pouco de egoísmo e orgulho guardar por tanto tempo um monte de feridas e rancores, guardar nomes, rostos, imagens de momentos dolorosos do passado. Pois é, nós guardamos. Hoje sou professor, eu percebo no olhar aqueles que sofrem com este crime social. Crime, pois é o único nome que eu posso dar a esta hedionda atitude que passa despercebido pelos olhos de tantos adultos tolos. Desprezível. Compartilho com vocês, meus raros leitores, uma experiência pessoal: Era o ano de 1999, eu estava na oitava série de uma escola chamada Escola São Vicente de Paulo, na região do Capão Redondo em São Paulo. Uma escola católica que tentava, naquele ano, ainda preserv

Olhar-te

No dia 26 de Janeiro os paulistanos que se prezam puderam presenciar um acontecimento muito importante. Não, não falo do primeiro dia após os 457 anos da cidade suja de São Paulo onde eu moro, embora eu a ame sem explicação. Falo do aniversário de dez anos da Cooperifa, o Sarau da periferia que acontece no bar do Zé Batidão, na região da Piraporinha. E, talvez, como comemoração, houve também o lançamento da revista Cooperifa, que registra um pouco da trajetória e dá uma pontinha sobre o que seria a Cooperifa, que em tanto é muito diferente do que quando presenciamos o Sarau. Na Cooperifa podemos ver um exemplo vivo de uma síntese da história que acontece de dentro pra fora. Por anos das nossas vidas empurraram goela abaixo que Dom Pedro I, Pedro Álvares Cabral, os Bandeirantes, e toda essa elite preguiçosa, são os verdadeiros heróis do Brasil, pois foram muito importantes para... bem, nada! Na época a história era uma coisa muito chata. Sempre contaram mal as nossas histórias, por