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Mostrando postagens com o rótulo Isabelle La Fleur

Protesto Apaixonado

Tal como o moribundo demente Que sente a vida indo de pouquinho E sente a pele morta já dormente Não sente nem o toque passarinho Sinto que sou a última do mundo Sinto que sou como a moribunda. Mas ao invés da pele sem o tato O que já morto sinto é o coração. Desse mundo carne, água e prato Dessa alma sem intuição Do vento frio e forte que não toca Onde tudo é sim e nada choca.

Tudo bem amor, está tudo bem

Eu vou permanecer aqui no meu canto roído da cama. Ficarei imune a mim mesma, moldando no colchão o formato do meu corpo, enquanto espero por ti, completamente sólida. Permanecerei muda e estática, sem expressão de desapreço, sem desgosto pela vida ou pela morte, apenas esperando. Tudo bem meu amor, está tudo bem. Não vou confundir a generosidade com algo maior, pois generosidade é apenas o agradecimento pela minha existência. Meu coração é frágil e temperadamente necessitado, mas esforça-se para não ver as coisas que mais deseja; esforça-se para não fazer de si mesmo a sua própria armadilha, que é um charco de lágrimas dolorosas e uma angústia silenciosa de apenas aceitar generosidade. Apenas uma generosidade mansa e cálida, que resume a alegria dos meus dias no esticar dos seus lábios, desenhando um sorriso que é típico de você. Dormirei mansa, sóbria, estagnada, esquecendo-me completamente de que é o ar que me dá vida; queimando meus ombros no roçar e rolar interminável

Estrela de Cinco Pontas - IV

IV Pelo sóbrio vestido de mulher Estive em poucas vias desta vida Vivi toda esta vida como quer Colhi o fruto nobre da amargura. I Bem sei o que me dizes ó amiga! Está com um pé na cova de ardores Curando como pode a ferida Que dói em sal, arbusto, veste e flores. IV Não doi apenas flores e arbusto Dói a existência sem sentido Dói a eminência do vestido Que veste e tapa tudo como augusto. I Pois ponha sobre a minha a tua mão Carrego como a ti, a pedra imensa De viver atrás do sim, mas ter o não Comer de insosso arroz pensando intensa. IV Agora muito bem sei como estou Pensava estar sozinha nessa dor Mas vejo que em ti eu muito sou No peito a mesma que eu tu tens a flor. I A flor está em mim e está em ti Sou tua alma pobre como és A minha alma rica que és aqui Você sou eu da fronte ao tronco e pés. ~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~ Autores: Matheus Vieira - I Isabelle La Fleur - IV

Roxo

O hematoma que tenho no peito Manchou eternamente minha mente Mente a vontade minha ao leito Quente como sonho igualmente. Bate fraco e fosco indolente. Falo só do que não posso ver Vejo só o que não posso dizer Digo o que poucos ouvem Ouço o que poucos dizem Faço o que muitos querem E vivo como vertigem. Sangue negro e perturbado Dói a alma íntegra e conformada Mas o que dói é alma minha? Ou alma flor? Roxa flor que nasce da ferida E bela ilumina a minha vida. Que dói que dói Mas é assim. Sento consumindo meu café. E vivo perseguindo minha ida. ~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Ébria

Definho os olhos sôfregos por seu olhar Deslizo pelas linhas de seus ombros Assim como o licor desliza Na garganta do ébrio vagabundo Ébrio moribundo. Sou sóbria destituída de valor Cujo último depósito Apostarei em teu calor. Definho de teus olhos moribunda Assim como a destreza de teus ombros Sobe a garganta com carinho Sou ébria vagabunda Escrava de teu amor.

Além das Horas

Por ora deixemos o passado Guarde estas almofadas velhas De vermelho desbotado Deixe as velhas canções de lado Os talheres de prata desgastados. Salto por cima do colchão Entreolhos olho o espelho Que tanto nessa vida procurei Que por ti lágrimas derramei Jaz aqui diante de mim mesma O reflexo da minha fronte Na córnea límpida celeste. E onde eu me encontro em seus olhos É onde comprazida estarei. Veja embaixo da minha cama Quantas poças ali acumulei Presas em velhas garrafas alcóolicas Cujas nunca mais eu beberei. Mudaram as estações e as cores Mas permaneceram as mesmas dores. Nasceram as costumeiras flores Que se destinavams aos mesmos amores. Saltei por cima do minuto E andei um passo adiante. Larguei as taças embriagadas Larguei a solidão das escadas. Larguei um pouco a minha testa E deixei a luz entrar pelos olhos. A mesma estação que permanece Não é a mesma, é apenas ilusão Ora vento esfria e ora aquece E uma hora ela certamente padece. Mas

Genesis

Gemina a semente pequenina Cuida bem da terra vespertina Rega água pura e cristalina Nasce uma flor, uma menina Nasce uma dor, escondida De fel e fundo misteriosa Vem a alma fendida Avança fria e sombrosa. Olhos cor de esmeralda Pele de flanco macio Toque flébil esbalda Fora cheio, dentro vazio. Gemina o gémem Semina o sémem Domina o impem Defina o hímen

Grinalda

Sinto falta d'amar te amiga E o doce toque alvéolo dado O toque simples e concentrado De peito leve entregado. Não foi com espada que fizestes o mundo, Foi só com terra, semente e água. A mão calejada da costureira Com canções de ninar embalava. Por muito tempo adormeci Caí no sono mais delicado Vivi o sonho mais comportado Sumi deste mundo sem me perder. Ornaram-te a fronte de grinaldas Com rosa e branca e alecrim No centro dela um diamante Que brilho forte ao teu sorriso. E cada pétala da grinalda Caía-te como um conta gotas E eu tão pueril preparando a próxima Desprevenida não dei por mim Caiu a última com tanta dor O diamante não mais brilhou Tua mão gentil descalejou O teu sorriso desfez-se e mim. E agora vejo, e como vejo Amar-te amiga doeu em mim A morte amiga que eu desejo Desfez-se assim, desfez-se assim. Doeu amar-te, minha rainha Princesa sóbria é o que restou E com amargas salivas minhas Tão sozinha é como estou. E agora aqui eu q

Lua, minha e sua

Meia Lua Meia calça Meia beijo Meia alça Meia vida. Pra curar minha ferida Que a lua seja meia lua cheia. Eu te dou a minha tralha Em meio corpo lua inteira. Sou às vezes lua nova, Mas nova serei inteira. E cheia sempre serei Se cobrir-me com o céu. Se o teu céu me conforta e me consola Não digo que serei sua, Digo que serei tua. Mesmo a lua sendo só lua E sendo ela a lua de todos, Serei cheia, Serei tua.

Estrela de Cinco Pontas - I

I Venho como poeta amador Que não sabe tocar lira Que só sabe falar de amor E que vem tentando ser grande Porém pequeno é o seu valor Continuamente dividido Em busca de uma razão IV E aqui estou também A poeta desgraçada Que tenta se reerguer De uma vida degradada Que pra mim nunca foi nada. Poeta de alma sangrenta Mulher sofrível corpulenta Que respira o ar roxo E bebe da água seca Verde feito veneno V Oh Pai perdoe-o Ele não sabe o que faz Teve a alma límpida um dia Salve a alma que outrora era luz E hoje vive apenas no obscuro Lave-o com sua lágrima abençoada E faça dessa alma Uma alma perdoada. III Não há alma que se possa ser lavada Pois a água não toca o que não existe. Se há algo de fato apodrecido É o corpo real e palpável E que é deveras comestível. Ao invés de alma lave os ouvidos E escute a voz do profeta Que gasta sua garganta hipócrita Para acreditarmos no nada. II Eu apenas sigo a sua t

Politicamente Amor

Faltam-me os excessos da política? Sobram-me os excessos de amor. Pois não falo do verbojar estúpido Das palavras mentirosas? E dessa vontade vil de se encharutar? O vinho é bem mais suave Os pés grossos pisoteando a uva Gostoso Enquanto que o suco lhe escorre viscoso Entre as pernas e os dedos. Ao mesmo tempo que briga por cifras Por quantas terras desbravarás Desbrava-me o sertanejo que a cifra compra Mas que tua burrice jamais pagará. Enterras os corpos que matarás Enterram-me a vida que desfruto. Discutes os pontos que te orgulham Descubro-me os pontos que me borbulham. Sim, entendo bem do teu discurso E vejo até o amarelo De teu falso sorriso branco Mas jamais estará em lençol brando. Compraze tua boneca Ao orná-la de aromas duvidosos O único e certo aroma O único que creio É do suor que cai do peito E desliza-me ao ventre.

Flor Bela Flor Pura

Lavo a flor límpida, sagrada e pura Com as lágrimas mais obscuras Dos erros que cometi. Mesmo sem crer que a luz eterna Dê força aos meus braços sôfregos E ânimo à vida torpe, Não posso deixar, E não deixarei, Que caia a flor sobre o jardim que cultivei. Tão cheia de rancor e nada sinto. Tão sóbria de desgraça e nada vejo. Só a flor que me anima o meu desejo De ser o que não sei que eu serei. Lavo a flor bela, bela e pura Com lágrima única que perdura Dos erros que esperam pela cura.

Varal

Uma roupa no varal pode lembrar muita coisa. Mas vai depender da roupa, e mais ainda, vai depender do varal. É claro que não falei ainda da lavadeira. Ah, que cheiro fresco de sabão de coco e roupa estendida. Então esse é um varal de casa de campo. Longe de tudo o que conhecemos, mas perto de tudo o que quase ninguém conhece. Assim, um lençol, balançando como se balançam as flores, está ali imponente e bem lavado. Gota a gota seca, devolve à terra o que dela foi tomada, a água. Balança e emite com a sua dança mágica as imagens de ontem, de anteontem, do século passado, quando ainda era semente.  Ah, lavadeira esperta. Lava a roupa rindo, mas não porque está feliz com seu ofício. Lava o lençol porque precisa, pra usar de novo. Com as mãos enrugadas e gastas na beira do tanque, sonha ainda com a próxima lavada, e a próxima. O vestido leve lhe contorna o corpo robusto, as pernas grossas, com manchinhas tímidas aqui e ali. Manchas para ela. Mas para ele, é só mais um temperinho.

Nascer do Sol

Ó puro anjo inexistente Leva-me daqui para o sempre No coração do sol nascente! Leva-me pro conforto incoerente Onde ali jaz minha descendência Pois não quero viver na indolência! Leva-me daqui junto com meus anjos De alma negra e estômago vazio Mas deixa no varal o lençol branco Com a mancha do sangue proibido Como nosso aviso de partida.

Das Impurezas do Templo

Eu vivo numa alcova sagrada E diariamente um anjo bom Visita-me despindo-se do manto Que herdou do pai que eu não creio. A flecha sibilou do inexistente Ruidosa e poderosa atingiu-me O coração morto amortecido. Que agora devidamente aquecido Virou um nômade de espírito ardente. De olhar preciso e espada quente Me ataca em pose indefesa E se o ato ao invés de sacro é de morte Então mate-me e depois jogue minha carcaça Sorrindo para ser levada ao mar Entregue às divindades e à sorte.

Deserdada

Louca, louca e como sofro! A dor da indulgente desgraçada A dor de uma megera deserdada De uma mente insana inconformada Eu tinha em pote o ouro afortunado Tinha a flecha esperta presa ao peito Doces pétalas perfumando o leito Qu'em abundância viva, era estreito. Mas hoje só o assola a mágoa escura Hoje, ai, hoje é só de pranto O pranto que em delongas se perdura. Pois se antes tinha eu a vida flora Sozinha destruí a todo encanto E agora a minha alma se deplora.

Desabotoando

Já estava a receber De manto branco o cavaleiro Alojador de pernicidas Pernicioso, presunçoso - É uma menina! Limpavas as mãos o orgulhoso. E em terra que se cava com ardor Depois da tempestade carinhosa Nasce ali uma solitária flor. E solitária é toda flor que desabrocha Pois da árvore só o fruto é devorado E bem sabido é que o rimador Sempre vai rimar a flor com dor. E aquela que é da mais esperta Convalescente cria seus espinhos E na flor que a mão vadia se estapa Ali o sangue cai devagarinho.

Às Espumas do Mar de Chipre

Ó filha do céu e do mar Venha banhar-me do sagrado ventre de tua mãe E desse líquido divino faça de mim A tua mais pura serva Invada minha alma com tuas rosas serenas E alivie por momento a minha loucura. Ó benfazejas espumas Que ardem e suavizam E sem dores escravizam Às tuas incorruptíveis vontades. Quando apagaram as luzes dos tempos Vestida de demônio e maltrada fostes Mas é no macio dos mares Que escondes tua liberdade.

Primeira

Tantas cores, tantos rostos Vento fresco e fresco osso. Quando ao peito me atentei Minha alma deportei Para o confortável dorso. E ali meu coração Enuviado de emoção... Cheio de explosivo medo Cheio de mãos e com um dedo Fez-me gritar... no chão.