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Mostrando postagens com o rótulo Isabelle La Fleur

Anactesia

Atenta a esta embriaguez plástica Sei que não sou tola meu amor Sei que esse mundo é pura lástima Mas porque corrói-me a coragem pela dor? Se por um momento apenas, Esta alma endócrina Pudesse se livrar de tanta perdição Ser pura, cristalina, leve como a mão De uma poente virgem que em tudo se acredita E extiguisse do mundo cada passo vacilante Cada interrogação. E por esse epítome de vida, viva inteireza Que certos seres nada querem senão provar Um gosto dessa intensa beleza Enquanto prófugos vagabundos vão Daqui desse poço torturante O mortal caminha, furioso Ora consternado, ora questionando Ora vai sem se lembrar E tem hora que até procura aceitar Que mal há, oh espírito convalescido? Que mal faria, se diante dessa tortura errante Pudesse ter o vislumbre da luz mais cálida E que varresse da alma por instante Toda a tristeza, todo o mal Num aviso nobre e que emociona: Minha filha que em mim não crê Crê que aí resido, toma esse corpo Vive uma porção do

Motivos

Motivo Que brisa fresca que desperta Eriça os pêlos dos braços Arrepia-me os pêlos da nuca Me faz ter saudades de muitas coisas De muitas tristezas deixadas pra trás Quanta loucura... Mais um outono nesta vida acinzentada Cada estação um motivo De quanto mais motivos serão necessários? Atiraram-me aqui neste corpo Como um dejeto, um desperdício Nesse projeto inconstante e inexplicável Sempre prestes a explodir! A gente anda por aí como se não  houvesse mesmo um motivo E a cada pausa pra respirar, permitem-nos tentar um sorriso. E que riso bobo quando eu olho pra esse horizonte E esqueço um pouco de tudo o que me rodeia E nessas horas também me esqueço do que sou (Do que fui) E me esqueço do que já sei o que vou ser E deixo os pensamentos um pouco em espera E espero de verdade que não seja mais uma ilusão Que não seja mais uma desculpa para seguir em frente Mas que seja o motivo que tanto procurei Já nem posso dizer, deixa pra lá. Deixa pra lá por que o

Crepúsculo

Ai, as minhas dores íntimas Que enlouquecidas berram aqui dentro Pois lá longe já anuncia o Astro Que seu posto por hoje já está feito! E de tantas coisas perturbantes Não há nada que seja tão constante Que o anúncio do crepúsculo Para o martírio dos malditos solitários! E este céu vermelho roxo e azulado Cuja cor duvida as minhas seguranças E prossegue nessa rubra e fria perdição Como o ar seco que nos sobre na garganta. E vindo junto com a triste escuridão sombria Um coral, um cântico, um murmúrio De vozes ressonâncias do silêncio De sofrer por um só o que ninguém sofria!

Minha benção na Primeira Missa

E quando tudo acabar No fim da festa um sorriso fugaz Pelo menos. E encara com um desolhar estranho Ao olhar pra traz E querer ter o álcool E alimentar a alegria E desejar estar no lugar De todas as desgraças dos outros, Acreditando que não terei apocalipse Quando abrir a porta de casa. Para quando chegar Cambalear pelas paredes sinuosas E atirar-me incólume à cama E abraçar os travesseiros Conforme meus únicos consolos E me esquecer de que não fui ninguém Enquanto alguém tentava ter O que só a mim pertence.

Reflexo no Lago

Desejo o reflexo da beleza Que reflete no reflexo do lago. Na superfície há a cristalina juventude Soa como o som do fino alaúde. Ao toque sinto-me molhada Das mãos aos pés me jogo no vazio Afundo-me em enganosa superfície Afogo-me em vazia ilusão. Iludo-me em reflexo confuso De todas minhas curvas distorcidas Sem cor, teor ou cheiro ou som difusos Somente a imagem pálida e borrada Que quando bate a brisa mais gelada E empurra suas camadas adiante O músculo dos lábios me engana E forma no reflexo um sorriso De tez e olhos e colo azuladas. Do fundo, lá do fundo eu não sei Eu quero, eu sinto o ímpeto voraz O pulso salta adianta, a mente avança E o meu reflexo encara tão em paz Tão sem nuance, sem sabor, sem andança. Na claridade plena some a transparência Porque é só o reflexo sobre a água Um sorriso distorcido sobre o lago Um olhar esmorecido pela brisa Das camadas que vão de outro para um lado. Não há o profundo saber de lá de dentro Serão azuis as algas

Amor de Profanação

Vozes ecoam por todo o meu templo Veja as marcas do assoalho e do tapete Borbulham o sangue e o vinho Como quem borbulha dos lábios O líquido mais repreendido. Repreende-se a vergonha E não sente-se o que mais se é humano. Humanamente desagarrada contemplo a tua a adaga sagrada, Perfura-me, estou morta, entregue, estou dada Badalam os sinos, uma vez para cada gemido Os vitrais exibem imagens de arguido. Os anjos cantam, nós dançamos A música mais bela está tocando Com ardor e com paixão, vamos ignorando Duas sombras que se mexem por trás dos lençóis Duas fontes, dois montes, uma ponte, dois faróis. Uma estrela explode em ebulição febril As galáxias se unem num calor doentio A ponte ante erguida se abaixa A paixão se soma e continua Eu sorrio, meus lábios se molham O coração ardoroso O coração pedregoso Se entreolham.

Da Eterna das Flores

Ainda que existissem mil amores E ainda que os prantos ressoassem No toque uníssono de sofrimento Ainda que só houvesse desalento E que o mundo fosse apenas dores, Jamais estaria fadada Ao pleno ardor do esquecimento Ela sutil, afã e acamada A bela, da eterna das flores. E da eterna das flores Sempre sob a escuridão Naquela esperança que ressurge Criança pura, delicada A recolheria em sua mão. O que a deusa impõe Mãos pequenas e tolas Jamais saberão porque manchar. Ouçam as reconditas harmonias Ouçam os vocalizes de alegrias Começam com sussuros pianíssimos E concluem-se em gritos fortes Fortíssimos! Daquilo que veio do céu O que herdamos de mais belo A música da lira cálida O sinfonia do amor de violoncelo. Morrem homens e mulhere vis Mas a história de amor À história sobrevive E a flor eterna que acha que morre Sempre na esperança revive. Pois tudo que há de vida neste mundo Começa com um ato de amor. Concluí-se num suspiro de saudade Termina nu

Quando a mais Bela Canção Toca

Teu suave toque Faz o meu amor descer Eu sinto o choque Eu deito, eu paro Meus lábios te envolvem Fazem teu amor crescer. Eu subo e busco o meu véu Eu caio, desço, estou no céu Eu desfaleço, deslizo, desleixe Tuas mãos firmes escalando a montanha Teu toque débil larga-me nas curvas A respiração falha, a vista turva Separa, eu paro, e faço manha. Eu vejo cores que não conheço Eu desconheço o meu lugar Tua unha, teu sangue, meu rosnar Eu te tenho eu me esqueço Eu te explodo eu me explodo Cai Deita Desfaz Desfalece É sono, quero descansar.

Clamor

Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor esperançoso Vem enquanto minha alma Transborda de tristeza. Vem me dar essa paz Joga-me na clareza. Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor esperançoso Vem me derrubar ao sono eterno Deixa-me torpe, emudecida. Cure as minhas cansadas feridas Ó desejada da minha vida Esta noite que cai uma escuridão profunda Eu te desajaria aqui ao meu lado Deitada, em minhas organdis celestes Feliz eu seria se tu me destes. Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor desesperado Transborda minha alma de alegria Enquanto a tristeza ainda deita-se ao meu lado Salva-me desse infeliz drama.

Amargura

Meu coração é amplo Vasto como o deserto do Saara Tudo o que minha boca fala O que o meu olhar vê O que meus ouvidos escutam O que minha pele sente, Tudo já estava pré concebido Sangrando veia a veia Até a artéria da mente. Ah esse amor de somente Semente de um fruto apodrecido Concebo o filho coxo E ele caminha como a consequência inevitável Dos mais incólumes atos. Tento turvar a vista Prender a respiração Mas nada pode distorcer os fatos. Sangra alma desafortunada Alma cuja fúria divina Deus muitas vezes o dedo apontou. A mais maldita das mulheres Arrasto-me como cobra asquerosa Esgueiro a felicidade de aquém. Sangra, e busca o refúgio na tua lágrima Sangra ventre embebecido Sangra coração amortecido Amordaçado pelo erro Ó coração amolecido pelo gesto de amar Sangra e chora No mundo que te negam, é tudo o que te resta Sangrar Chorar.

Tsemaya Sentle Imaan

Abrem-se os finos céus Olimpos ou Paraísos Enquanto os deuses choram. Um caminho negro e vivo Arrasta-se nas alamedas Enquanto as Deusas oram. Pés exaustos, resvalados Caminham pensando a sorte. É uma marcha de dor É uma marcha de morte. Confunde-se a pungente dor Com a alma de sua cor. Trazem nela as marcas da história Dos infinitos açoites Dos buracos de fome Dos dias de eterna noite Das infinitas mortes sem nome. A morte aqui é branca Negra é a viva alma Caminha na sua sorte Uma marcha de dor Uma marcha de morte Uma mancha, um corte. Os céus se abrem Não no dia claro Não na porta luzidia! Caminham na sua sorte No mais lúgubre do dia! A cada passo caminhado Sorve o sofrimento De um anjo que é contemplado. E neste duro firmamento É eternamente esquecido Mas eu cravo com brio A ponta firme de minha dor! Tsamaya Sentle Imaan! Tsamaya Sentle Imaan! Vá e leve contigo Um pedaço do meu amor! Um anjo bom é esquecido Não canonizado Um anjo puro,

Vendaval

Começa com um sopro. Os olhares, esguios, Não se encontram mais. Não é mais a voz que fala Ela cala. O corpo aos poucos estremece Desescama, desencana... As formas tomam formas Da forma que o olhar desconhece. A alma morta toma nota Aviva-se em estranha calma. A preocupação doentia fenece E à nos, a música desfalece. Canção noturna e sussurrada Resplandece em tempestade de verão E termina no frescor do amanhecer. E a voz, aos poucos reconhece Cai o sono no olhar estarrecido E o corpo, dormente, adormece.

Incurável Enfermidade

Eu não sou o eixo da infinita roda Que gira da planície ao litoral. Eu não sou o remédio das ânsias De vidas inexistentes E que tanto insistem em se enfeitar. Ah Apoteóse! Ah Infinita Náusea! Com tal crueldade eu escuto o ruído das máquinas Mas não vejo nada. Não sinto mais o cheiro dos doces aromas, Mas com tal crueldade eu sinto! Eu sinto o cheiro do óleo Do carbono E do silício. Ah penoso destino Onde tudo se acaba em rugas e bolhas! Onde os suores de dois corpos não se conhecem mais Mas por hora se entendem! Não está ao meu alcance Desde o meu nascimento A sensação macia de uma mão carinhosa. Ah severa mão penosa! Com que crueldade caí no meio da tempestade Desnudada de meus princípios Enrugada em meus suplícios. Ah, as minhas escolhas! Merecida consequência! O açoite silencioso desses morimbundos! Ah como me mata a morte viva desse mundo!

Condenação

Não adianta ornar com rosas Com tulipas e querubins Nem cravos de pétalas rugosas E menos azaléias vistosas A árvore que já se condena. Seus galhos retorcidos assim permanecerão Recurvada sobre a própria sombra Com a copa estarrecida e faminta De folhas secas acinzentadas. Não há o que lhe tire da situação Uma vez que a raiz caiu no solo E já atinge as profundezas do inferno Aquecendo-se vacilante Neste eterno inverno.

Jardineiro Infiel

E ali está. Pende para um lado com o vento que bate, Murcha, quase morta, seca como a terra, Áspera como a mão idosa do sábio, Que não sabe de nada. Ali está Na espera Na demora Na lentidão das horas (Que nunca passam). Um jardineiro infiel Plantou a semente com tanta precisão Cavou fundo fundo, com cuidados expressos E fugiu para não viver mais sua solidão, Partiu em dois sua visão. Ali está, Pende para um lado e para o outro Largada com desprezo insólito Para o vento que bate e nunca cessa. A flor tratada com pressa. Que não sabe se morre Que não sabe se espera. E enquanto espera, escorre...

Ponto Final

Caiu uma gota, distância, Dor efêmera, raio escuro, Com um passo de constância Atravesso a porta do obscuro. Venço com rugir A dor estranha do peito Como o leão sendo sua presa Caída, em paz, no leito. Com mais um pouco de coragem Enxergo o mistério restrito Alcanço a luz dessa viagem Que a imaginação tem descrito. Céu, inferno ou simples terra Destruo com faca e ferro O que quer que seja é eterna guerra Antes do morro, o berro. E em poucos passos adiante A dor que pulsa no pulso Reduz-se a simples instante Vermelha e negra, eu expulso. A gota alcança o tapete E o branco da paz que se mancha Soa três badaladas e um lembrete: A moça branda, enfim, descansa.

Carta ao Cientista

Coração. O que é isso? Será apenas um pedaço de carne que pulsa simetricamente, sincronizadamente, espalhando sangue para todos os lados? O que é isso? Um amontoado de músculos asquerosos e pegajosos, de aspecto grotesco cheio de uma carne indigesta? É o coração apenas o que jaz em carne? Ah sofrimento! Não vens do meu peito, mas da minha mente perversa e luzidia. E a razão, essa soberba que nunca admite a nada, transfere toda a responsabilidade para o já cansado coração, e é lá que eu sinto a dor, além da dor inevitável de me sustentar pelo resto da vida. Pois todos os males a ti pertencem ó coração. Carregas por toda a vida a responsabilidade cruel da vida, além da vida, e possui força imensa para realizar o seu trabalho incessante, sem reclamar, sem contestar. E razão, esta soberba, de ti diretamente depende. Dizem que é o contrário, pois sem a razão, o coração nada seria. Mas tu, meu pobre e cansado coração, tu és mais nobre, pois vives em constante labuta pobre, e ret