Uma roupa no varal pode lembrar muita coisa. Mas vai depender da roupa, e mais ainda, vai depender do varal. É claro que não falei ainda da lavadeira. Ah, que cheiro fresco de sabão de coco e roupa estendida. Então esse é um varal de casa de campo. Longe de tudo o que conhecemos, mas perto de tudo o que quase ninguém conhece. Assim, um lençol, balançando como se balançam as flores, está ali imponente e bem lavado. Gota a gota seca, devolve à terra o que dela foi tomada, a água. Balança e emite com a sua dança mágica as imagens de ontem, de anteontem, do século passado, quando ainda era semente. Ah, lavadeira esperta. Lava a roupa rindo, mas não porque está feliz com seu ofício. Lava o lençol porque precisa, pra usar de novo. Com as mãos enrugadas e gastas na beira do tanque, sonha ainda com a próxima lavada, e a próxima. O vestido leve lhe contorna o corpo robusto, as pernas grossas, com manchinhas tímidas aqui e ali. Manchas para ela. Mas para ele, é só mais um temperi...
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