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Boca

Desce o decote e o suor vivo do teu peito A ânsia amarga cobre a língua do meu leito Mechas vivas meneantes cambaleiam Braços fortes como farinha esperneiam. Boca, vil e doce. Diz palavras da inatingível distância De mãos dadas subimos sete degraus Descemos rolando três E paramos no parapeito do apartamento. Bateu a porta Entrei pela direita Jogou-me suas bonecas de diversas facetas Rodávamos felizes, palavras, caretas. E a sua boca. Entreabertas linhas curvilíneas Baba escorre pelas beiras As carnes quentes laterais Líquido aos conteúdos viscerais. Boca, Dela que dá origem à vida E daí então até à morte Ter-te comigo é plena sorte Mechas vermelhas insanas Rodelas pratas carinhosas Cachos negros agressivos Réguas louras abusivas. Boca de gritos Boca de amor.

Como Se Fosse o Último Adeus

O ano era 2007. O ano de dois mil e sete. O pretenso, extenso, arrastado ano de dois mil e sete. Pareceu para mim aquele ano uma eterna tarde de sol, ou nas minhas próprias definições, um repleto tédio que estava longe de terminar. A poesia subjetiva está fortemente ligada às dores íntimas de quem escreve, mas entender o que está nas entrelinhas se eleva para uma compreensão de um momento que pode ser comum a todos. É interessante quando eu lanço meu olhar em meu próprio passado, e percebo que muito do que senti naquela época eu já sinto de uma forma diferente hoje, e pensar que evoluí em virtude de certo amadurecimento. O não saber do que ser, e ao mesmo tempo a vergonha de sentir uma dúvida tão pequena num mundo de problemas tão grandes. Ou o sufocamento que sentia por me envolver em relacionamentos sem futuro, com excesso de cobrança e pouco retorno emocional. Ao mesmo tempo vendo ser esmagada sem piedade a fantasia mais mentirosa que a idade adolescente cultiva: amizade. Melhor diz

Saudade

Meu coração não é meu Está em toda parte dos caminhos que andei. Cada um carrega um pouco do que é seu. E como parte do que foi despedaçado, aquele com meu zelo está guardado, Pois tudo o que vivi de cada é preservado. E há aqueles quem sem aviso me roubaram Sua parte ditatória vontade, Pra que causasse a dor que nos separam. Mas tal dor que se descreve em meu peito, É o amor que agora tem seu leito, Nas lembranças do pobre dilacerado.

Redundância

 Vai o poeta rolando a ladeira Passa por si mesmo Bate na cadeira Volta pelo povo Para na madeira E vai o poeta rolando na cadeira Bate pelo povo Passa na madeira Volta por si mesmo E volta pra ladeira E volta o poeta rolando na madeira Bate em si mesmo Chora na ladeira Volta pelo povo Morre na cadeira.

Mundo

Daí de baixo de tudo Com olhos virgens Boca baba Respira e arfa. Coraçãozinho brando Sonho meu mundo infantil O petróleo baixou o preço. Mas tem o sapo perto da guia A bolinha rolando na pia O doce grudando na mão O balão no infinito sumiu! Sonho meu mundo infantil.

Casa de Espelhos

Desperta da erupção Tuas mãos leves tocam meus ouvidos Ardem ainda as marcas nas costas Escorre-me a vida pelo lençol Sorriso débil de encantamento Mas é um espanto! Choro convulsiva desespero! Apavorada por ingrata atitude Pois trocou todo o amor que tenho Por essa vil casa de espelhos.

J'aime la femme

E s cusa-me imenso amor, oh Lídia D e sfaço da minha vida inteira E x cessos de estupor, perfídia M o mentos de mania trigueira. E c rustrada no canto do quarto V o u remoendo as faces molhadas A m adas vezes gestos amada E por vezes sempre apedrejada S a lvo teu amor pela certeza A m enizada sempre beleza F o me sentida pelo teu beijo O r a de amiga, ora desejo.

Noites

Parto do egocentrismo esmero rutilante Palavras sem sentido vulcões erupções Artes geográficas parábolas diastráticas Meninas solitárias vis acontecimentos Espaços vazios erros tormentos Tudo o que eu quero é um beijo seu Tua boca rósea de seda Teus medos morais Tuas vozes imortais O amor à minha imagem e semelhança.

Às Flores

Quem olhar para o céu agora Verá uma aura cor de rosa Cor de qualquer coisa Como o arco-íris. E qualquer seria se fosse qualquer coisa O mel em meus lábios É ferrão nos dos outros Pois olhos de flechas Não atingem a armadura dos nossos corações. E estes mesmos olhos que consigo colidem E qualquer coisa não verão Pois o amor que falsamente se propaga E nestes vis olhos se estraga Como doce fruto em meu peito se aloja. Trazendo-me das mais impuras noites Desde as mais insanas orgias Em alucinações céticas embrigadas. O mais doce canto de tua mãe Sob a relva que repousa tuas angústias O mais puro encanto de meu pai. O mais doce néctar de teu ventre.