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A Porta de Saída

Sim, encontrei a porta de saída querida. Você não me tem mais. Minha mão pesa sobre a maçaneta, e agora vale muito a pena girá-la e abri-la. Que ao menos você tenha aprendido uma lição. Que ao menos você, mesmo que não assuma em público, assuma pra si mesma que estava errada. Isso já serve pra satisfazer o meu ego. Isso não é uma crônica, é uma mensagem. Mensagem de despedida? Não sei ainda. Minha mão pesa sobre a maçaneta da porta, mas não sei se ainda quero girá-la. Eu vejo você na cama, completamente despida de vestimentas e de pudor. Poderia ter sido só a roupa? A porta bem diante de mim, e levei tanto tempo pra sair. Eu era corpo e alma. Mas você, só corpo. Poderia ter sido isso? Em um breve momento eu acreditei que não. Acreditei que sua alma tentava conversar com a minha. E tentávamos nos entender. Hoje dói dizer o quanto te amo. E dói dizer o quanto quero te esquecer. Consegue sentir isso? Não é um riso de deboche, é um riso patético de raiva. Mesmo depois de tudo, eu ainda

Grinalda

Sinto falta d'amar te amiga E o doce toque alvéolo dado O toque simples e concentrado De peito leve entregado. Não foi com espada que fizestes o mundo, Foi só com terra, semente e água. A mão calejada da costureira Com canções de ninar embalava. Por muito tempo adormeci Caí no sono mais delicado Vivi o sonho mais comportado Sumi deste mundo sem me perder. Ornaram-te a fronte de grinaldas Com rosa e branca e alecrim No centro dela um diamante Que brilho forte ao teu sorriso. E cada pétala da grinalda Caía-te como um conta gotas E eu tão pueril preparando a próxima Desprevenida não dei por mim Caiu a última com tanta dor O diamante não mais brilhou Tua mão gentil descalejou O teu sorriso desfez-se e mim. E agora vejo, e como vejo Amar-te amiga doeu em mim A morte amiga que eu desejo Desfez-se assim, desfez-se assim. Doeu amar-te, minha rainha Princesa sóbria é o que restou E com amargas salivas minhas Tão sozinha é como estou. E agora aqui eu q

Orquestra Incompleta

Cansei de ti amor Sai de mim, me deixa só! Cansei da tua delicadeza Que disfarça o perverso em pureza. Segue o cego arrastado Que não quer ver tudo o que vê Pois quando vê, só vê a si mesmo Cancela o óbvio racional Vira moribundo passivo E faz da própria alma um internato. Cansei de ti amor Que olha para o certamente impossível E me engana que a tarefa Com força e fé é certamente passível. Cansei de ti por me enganar Me faz de tolo irracional: Eu vejo o homem morto de fome A criança de ferida aguda A operária muda E o cobrador surdo Todos felizes cantarolando De braços dados em um jardim Ignorando o seu fatídico É o que eu vejo, amor estúpido! Com tanta gente me falando ao ouvido Sinto-me incapaz de crescer. Parem de me falar ao ouvido! Parem de me falar ao ouvido! Estou cansado de estar cansado Quero adormecer meu espírito Enxergar a natureza Cá, eiras e beiras quero enxergar Purificar as feridas alheias. Esquece de mim amor estúpido Em mim se aloja sem pedido De mim se apodera sem se

Lua, minha e sua

Meia Lua Meia calça Meia beijo Meia alça Meia vida. Pra curar minha ferida Que a lua seja meia lua cheia. Eu te dou a minha tralha Em meio corpo lua inteira. Sou às vezes lua nova, Mas nova serei inteira. E cheia sempre serei Se cobrir-me com o céu. Se o teu céu me conforta e me consola Não digo que serei sua, Digo que serei tua. Mesmo a lua sendo só lua E sendo ela a lua de todos, Serei cheia, Serei tua.

Estrela de Cinco Pontas - III

Estrela de Cinco Pontas III - 04/12/2008 I Quem será ele? E quem serei eu? Serei o véu apaixonado Das palavras esfareladas Que se perdem com o tempo? Registra-me este amor E depois assine embaixo Com sua tinta, beijo ou gozo. E que a valia deste contrato Não se desfaça com desgosto. III Use estes papéis Para encontrar a cura Das doenças que não tem O papel e o gozo existem Mas o amor e a promessa Só ao toque do sonho resistem. I Quem és tu? III Quem sou eu? Sou apenas tua carne Das lições que desaprendeste Sou a planta que não crês Ser apenas planta. I Não, além da planta Há o ar, a flor e a fé. Esta é a planta que eu rego Para não deixar morrer. III Esta é a planta que te rega E que certamente morrerá. ~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~ Autores: Matheus Vieira  - I Borges Sanatore - III

Sob a Tua Manta

 Teu nome é como o cair das águas Que cura dor, sofrimento e mágoas Tua voz é como o suave vento Que torna em ânimo o desalento. Teu toque é igual ao dos evangelhos Que livra a alma do vil tormento E o teu sorriso, que nunca falha Ele é o dom do meu alegramento!

O Corpo Docente e o Decente

"Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes. A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado." - Artur Schopenhauer - Sobre a Erudição e os Eruditos. A minha postagem de hoje eu começo com um trecho de um trecho. Existe um livrinho que andam vendendo por aí, atribuído à autoria de Schopenha

Suave na Manhã

No suave amanhecer Despertava a delicada brisa Que o Senhor despejara No berço da humanidade Quatro estrelas despencaram do céu Um mar se abriu e engoliu a correnteza Três homens derrubaram uma árvore Uma cozinheira despejou o seu tempero no feijão E uma viúva lamentava a morte do major Mal abrira os olhos E sentiu pesando na moleira O teto que se despencava Ainda assim em tontura e confusão Contemplou que como buda Assentavam sobre ele  A imagem de seus pais.

Estrela de Cinco Pontas - I

I Venho como poeta amador Que não sabe tocar lira Que só sabe falar de amor E que vem tentando ser grande Porém pequeno é o seu valor Continuamente dividido Em busca de uma razão IV E aqui estou também A poeta desgraçada Que tenta se reerguer De uma vida degradada Que pra mim nunca foi nada. Poeta de alma sangrenta Mulher sofrível corpulenta Que respira o ar roxo E bebe da água seca Verde feito veneno V Oh Pai perdoe-o Ele não sabe o que faz Teve a alma límpida um dia Salve a alma que outrora era luz E hoje vive apenas no obscuro Lave-o com sua lágrima abençoada E faça dessa alma Uma alma perdoada. III Não há alma que se possa ser lavada Pois a água não toca o que não existe. Se há algo de fato apodrecido É o corpo real e palpável E que é deveras comestível. Ao invés de alma lave os ouvidos E escute a voz do profeta Que gasta sua garganta hipócrita Para acreditarmos no nada. II Eu apenas sigo a sua t