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Ébria

Definho os olhos sôfregos por seu olhar Deslizo pelas linhas de seus ombros Assim como o licor desliza Na garganta do ébrio vagabundo Ébrio moribundo. Sou sóbria destituída de valor Cujo último depósito Apostarei em teu calor. Definho de teus olhos moribunda Assim como a destreza de teus ombros Sobe a garganta com carinho Sou ébria vagabunda Escrava de teu amor.

O Não-Itinerário

 Ao descer do avião Não havia ninguém à minha espera. Nem ao descer do elevador, Ao sair do aeroporto Ao sair do táxi Ao descer até a cama Ao ingressar no interino dos sonhos. Despertei no dia seguinte E só me aguardavam na mesa de pinho As cartas que não mandei Fotos de antigos amigos O café frio depositado na xícara E o açucareiro vazio.

Além das Horas

Por ora deixemos o passado Guarde estas almofadas velhas De vermelho desbotado Deixe as velhas canções de lado Os talheres de prata desgastados. Salto por cima do colchão Entreolhos olho o espelho Que tanto nessa vida procurei Que por ti lágrimas derramei Jaz aqui diante de mim mesma O reflexo da minha fronte Na córnea límpida celeste. E onde eu me encontro em seus olhos É onde comprazida estarei. Veja embaixo da minha cama Quantas poças ali acumulei Presas em velhas garrafas alcóolicas Cujas nunca mais eu beberei. Mudaram as estações e as cores Mas permaneceram as mesmas dores. Nasceram as costumeiras flores Que se destinavams aos mesmos amores. Saltei por cima do minuto E andei um passo adiante. Larguei as taças embriagadas Larguei a solidão das escadas. Larguei um pouco a minha testa E deixei a luz entrar pelos olhos. A mesma estação que permanece Não é a mesma, é apenas ilusão Ora vento esfria e ora aquece E uma hora ela certamente padece. Mas

Genesis

Gemina a semente pequenina Cuida bem da terra vespertina Rega água pura e cristalina Nasce uma flor, uma menina Nasce uma dor, escondida De fel e fundo misteriosa Vem a alma fendida Avança fria e sombrosa. Olhos cor de esmeralda Pele de flanco macio Toque flébil esbalda Fora cheio, dentro vazio. Gemina o gémem Semina o sémem Domina o impem Defina o hímen

O Intento Impossível

Uma música Uma lembrança Um sabor de última dança. Um toque de esperança Um beijo de saudade Um desejo, uma vontade Um sentimento de verdade... Ou um engano da idade? Não importa, saudade. Um medo ou egoísmo? O eu mesmo ou altruísmo? Uma noite de paz E mais duas de tormento. Um suspiro cor de seda E mais outro de renúncia Suplicar como prenúncia De um novo mundo igual. Outro medo, uma denúncia. Sabor de mel insosso Passos tortos de uma vida Que nos dói até o osso. Uma voz que é a paz E um silêncio, o tormento Quanto menos se quer mais Até o limite do rebento Do amor que satisfaz Como a gota ao sedento. A coleta de migalhas Que espera que um dia De verdade ou de mentira Forme-se uma regalia Que acalme essa ira. Uma raiva do impossível Uma crença no incrível Solidão indescritível Coração indestrutível Sentimento invencível. Uma música Uma dança Uma lembrança, um presídio. Um toque único de amor Com sabor de suicídio. Um olhar que se esquiva E mais outro que se perde Um semblante de estát

A Porta de Saída

Sim, encontrei a porta de saída querida. Você não me tem mais. Minha mão pesa sobre a maçaneta, e agora vale muito a pena girá-la e abri-la. Que ao menos você tenha aprendido uma lição. Que ao menos você, mesmo que não assuma em público, assuma pra si mesma que estava errada. Isso já serve pra satisfazer o meu ego. Isso não é uma crônica, é uma mensagem. Mensagem de despedida? Não sei ainda. Minha mão pesa sobre a maçaneta da porta, mas não sei se ainda quero girá-la. Eu vejo você na cama, completamente despida de vestimentas e de pudor. Poderia ter sido só a roupa? A porta bem diante de mim, e levei tanto tempo pra sair. Eu era corpo e alma. Mas você, só corpo. Poderia ter sido isso? Em um breve momento eu acreditei que não. Acreditei que sua alma tentava conversar com a minha. E tentávamos nos entender. Hoje dói dizer o quanto te amo. E dói dizer o quanto quero te esquecer. Consegue sentir isso? Não é um riso de deboche, é um riso patético de raiva. Mesmo depois de tudo, eu ainda

Grinalda

Sinto falta d'amar te amiga E o doce toque alvéolo dado O toque simples e concentrado De peito leve entregado. Não foi com espada que fizestes o mundo, Foi só com terra, semente e água. A mão calejada da costureira Com canções de ninar embalava. Por muito tempo adormeci Caí no sono mais delicado Vivi o sonho mais comportado Sumi deste mundo sem me perder. Ornaram-te a fronte de grinaldas Com rosa e branca e alecrim No centro dela um diamante Que brilho forte ao teu sorriso. E cada pétala da grinalda Caía-te como um conta gotas E eu tão pueril preparando a próxima Desprevenida não dei por mim Caiu a última com tanta dor O diamante não mais brilhou Tua mão gentil descalejou O teu sorriso desfez-se e mim. E agora vejo, e como vejo Amar-te amiga doeu em mim A morte amiga que eu desejo Desfez-se assim, desfez-se assim. Doeu amar-te, minha rainha Princesa sóbria é o que restou E com amargas salivas minhas Tão sozinha é como estou. E agora aqui eu q

Orquestra Incompleta

Cansei de ti amor Sai de mim, me deixa só! Cansei da tua delicadeza Que disfarça o perverso em pureza. Segue o cego arrastado Que não quer ver tudo o que vê Pois quando vê, só vê a si mesmo Cancela o óbvio racional Vira moribundo passivo E faz da própria alma um internato. Cansei de ti amor Que olha para o certamente impossível E me engana que a tarefa Com força e fé é certamente passível. Cansei de ti por me enganar Me faz de tolo irracional: Eu vejo o homem morto de fome A criança de ferida aguda A operária muda E o cobrador surdo Todos felizes cantarolando De braços dados em um jardim Ignorando o seu fatídico É o que eu vejo, amor estúpido! Com tanta gente me falando ao ouvido Sinto-me incapaz de crescer. Parem de me falar ao ouvido! Parem de me falar ao ouvido! Estou cansado de estar cansado Quero adormecer meu espírito Enxergar a natureza Cá, eiras e beiras quero enxergar Purificar as feridas alheias. Esquece de mim amor estúpido Em mim se aloja sem pedido De mim se apodera sem se

Lua, minha e sua

Meia Lua Meia calça Meia beijo Meia alça Meia vida. Pra curar minha ferida Que a lua seja meia lua cheia. Eu te dou a minha tralha Em meio corpo lua inteira. Sou às vezes lua nova, Mas nova serei inteira. E cheia sempre serei Se cobrir-me com o céu. Se o teu céu me conforta e me consola Não digo que serei sua, Digo que serei tua. Mesmo a lua sendo só lua E sendo ela a lua de todos, Serei cheia, Serei tua.

Estrela de Cinco Pontas - III

Estrela de Cinco Pontas III - 04/12/2008 I Quem será ele? E quem serei eu? Serei o véu apaixonado Das palavras esfareladas Que se perdem com o tempo? Registra-me este amor E depois assine embaixo Com sua tinta, beijo ou gozo. E que a valia deste contrato Não se desfaça com desgosto. III Use estes papéis Para encontrar a cura Das doenças que não tem O papel e o gozo existem Mas o amor e a promessa Só ao toque do sonho resistem. I Quem és tu? III Quem sou eu? Sou apenas tua carne Das lições que desaprendeste Sou a planta que não crês Ser apenas planta. I Não, além da planta Há o ar, a flor e a fé. Esta é a planta que eu rego Para não deixar morrer. III Esta é a planta que te rega E que certamente morrerá. ~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~ Autores: Matheus Vieira  - I Borges Sanatore - III