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Clamor

Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor esperançoso Vem enquanto minha alma Transborda de tristeza. Vem me dar essa paz Joga-me na clareza. Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor esperançoso Vem me derrubar ao sono eterno Deixa-me torpe, emudecida. Cure as minhas cansadas feridas Ó desejada da minha vida Esta noite que cai uma escuridão profunda Eu te desajaria aqui ao meu lado Deitada, em minhas organdis celestes Feliz eu seria se tu me destes. Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor desesperado Transborda minha alma de alegria Enquanto a tristeza ainda deita-se ao meu lado Salva-me desse infeliz drama.

Amargura

Meu coração é amplo Vasto como o deserto do Saara Tudo o que minha boca fala O que o meu olhar vê O que meus ouvidos escutam O que minha pele sente, Tudo já estava pré concebido Sangrando veia a veia Até a artéria da mente. Ah esse amor de somente Semente de um fruto apodrecido Concebo o filho coxo E ele caminha como a consequência inevitável Dos mais incólumes atos. Tento turvar a vista Prender a respiração Mas nada pode distorcer os fatos. Sangra alma desafortunada Alma cuja fúria divina Deus muitas vezes o dedo apontou. A mais maldita das mulheres Arrasto-me como cobra asquerosa Esgueiro a felicidade de aquém. Sangra, e busca o refúgio na tua lágrima Sangra ventre embebecido Sangra coração amortecido Amordaçado pelo erro Ó coração amolecido pelo gesto de amar Sangra e chora No mundo que te negam, é tudo o que te resta Sangrar Chorar.

Animo

No impossível caminho Onde o céu e a terra se abraçam Eu lanço o meu modesto olhar. O perfume verde afaga-me o ser Misturo-me com pedra dura Árvore seca, água pura. Sou branca cinza Preta escura E na morte suave Como um vento, brisa tranqüila Meu coração, feliz, perdura.

Mar Adentro

Não hesite Não pense Atire-se no mar Não hesite em se afundar Não fareje, Cheire! Não deguste, Devore! Não hesite em se afogar Não tenha medo ao se molhar Não hesite Em perder a respiração Em cair em tentação De se aprofundar. Não hesite Não pense Não tema se secar Não hesite Quando a terra dura pisar Não hesite em dar adeus Quando toda essa água acabar.

Eu Eva - A minha irmã

E quando parei de olhar a natureza Cresceste. As coisas acontecem Enquanto nosso olhar fenece no espelho Perde a estribeira. Faço o verso como tu pedes Não rimo Não rimarei. Tu não rimas com nada! Teu verso é único Isolado. Não vejo rimas para teu olhar Nem para este teu sorriso Cheio de ironia Mas sábio. Saiba Perde-se o medo Vira-se poesia! Cai a pétala Vira-se o lótus Abre-se o fócus Cria-se o ópus. Atalanta de madeixas frias Seguras a tua lança Espetas a tua vontade nesse mundo Pois ele também te pertence. Ouves os sons? Certo que eles são para teus desígnios. Tua voz estremece Mas o povo teme o terremoto E finge que adormece. Mas ouves! Ela aquece! E quando parei para te olhar Para te ouvir Te cheirar Te ser Ainda vejo Crescendo...

Sobre o Medo de Você ainda estar aqui

Constantemente feminina Ela sobe, ela desce Ela fala Estremece. Solta os seus pedaços de mulher menina Em todas as tristes esquinas. A vida me adotou subitamente E contemplo sempre uma tristeza bela: Os armários envelhecem. As flores murcham. As vidraças encardem. Mas tudo o que é onomatopéia No futuro lembrará ela. Sua presença ilude E já no presente obscuro A saudade sem sentido Cria seqüelas.

Conjugação

A gente senta e se sente só Café na caneca de porcelana Escuta os sons da casa vizinha Canta e conversa com o rádio de pilha Sonha casa e jardim marido e filha Estremece e esquece da escotilha Se deita na cama e sorri solitária. A gente conjuga o verbo sem nós

Objeto Familiar

Despencou uma estrela Da mais longínqua galáxia E foi cair aqui no meu colo Em inconsciente ataráxia. Ergui-a em minhas mãos Beijei-a e disse: - Olá, por onde tem andado?

Rio Grande do Sul, Quatro de Dezembro de Dois Mil e Nove.

De todos os lugares para se viver, o coração humano é o mais inóspito. Lugares onde vivem apenas nômades, os mesmos que tiveram coragem de abandonar seus lares seguros para se aventurarem em um terreno desconhecido. O mais precioso dos bens, território que ninguém rouba, se for conquistado com sinceridade e bom afinco. Há quem queira empilhar plásticos e ferragens em armários de mármore. Mas desde que nasci para a vida, virei um colecionador de corações.

Minha Origem

Escuta o shhh do rio que corre. Ouça que não há exclamação. É reticências E meu pensamento com ele flui. Escuta o vsshh do vento que bate. Ouça que não há exclamação É reticências E meu pensamento com ele voa. Escuta o flish flish da folha que cai Ouça que não há exclamação É reticências E com ele adjacência meu coração.