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Esperando o Trem

Esperei para nascer Espero para morrer Espero para tudo acontecer Minha vida me bota a esperar E esperando espero não esperar. Espero o ônibus O trem E a minha incansável carona. Espero a nuvem de chuva E o sol escaldante Espero aquela brisa fresca Espero a barca. Espero a noite chegar E o dia terminar de nascer Espero a lua brilhar Enquanto as estrelas tocam Uma sinfonia do iluminar. Espero o sol parar de brilhar E o mar parar de subir A colina parar de ser alta. Espero não sentir sua falta. Espero para crescer E ver que tudo o que aprendi Era só questão de esperar. Não espero para amar Espero para receber Recebo votos de esperança Espero que a alegria não salte Pela janela da desilusão E depois de tanta espera Espero a tristeza passar Espero o choro passar Espero tudo passar. Espero pela lágrima que não cai Espero pelo sorriso que não sai Tudo é questão de esperar. Espero um dia esperar Que tudo

Quando a Luz se Apaga

Rastros de uma vida infeliz. Às vezes a lembrança vem implacável, e de todas as vezes em que estive triste de verdade (tristeza de verdade é um sentimento muito intenso) a imagem mais clara a qual aludia minha alma era a de uma luz se apagando. Todo mundo tem medo do escuro, certa professora disse. Por que será? Quando não há imagens presentes no nosso campo de visão, automaticamente começamos a nos defrontar com as imagens do nosso cérebro, da nossa imaginação, daquilo que evitamos enquanto 'conscientes'. Temos medo do que está dentro, do que escondemos, daquilo que constantemente reprimimos. Nas sessões com a psiquiatra ela me disse: "Se você sentiu, se você pensou, é porque ele está lá, dentro de você. Não ignore, enfrente". Pois é, enfrentar o medo do escuro, o medo de aceitar as limitações, de descer um pouco do pedestal do orgulho e assumir os erros, assumir as falhas, pedir desculpas, mesmo que não aceitas. Danem-se todas aquelas sujeitações maiores de

Amor de Profanação

Vozes ecoam por todo o meu templo Veja as marcas do assoalho e do tapete Borbulham o sangue e o vinho Como quem borbulha dos lábios O líquido mais repreendido. Repreende-se a vergonha E não sente-se o que mais se é humano. Humanamente desagarrada contemplo a tua a adaga sagrada, Perfura-me, estou morta, entregue, estou dada Badalam os sinos, uma vez para cada gemido Os vitrais exibem imagens de arguido. Os anjos cantam, nós dançamos A música mais bela está tocando Com ardor e com paixão, vamos ignorando Duas sombras que se mexem por trás dos lençóis Duas fontes, dois montes, uma ponte, dois faróis. Uma estrela explode em ebulição febril As galáxias se unem num calor doentio A ponte ante erguida se abaixa A paixão se soma e continua Eu sorrio, meus lábios se molham O coração ardoroso O coração pedregoso Se entreolham.

O Interminável Adeus

Amo a obra-prima com ardor Ela deitada, débil Desfalecendo em seu próprio despudor Musa facetada flébil. Obra-prima que se criou Criou-se mulher Criou-se menina. Cai em tentação doentia Sábia rosa, carinhosa, calorosa. Coração afanado, espera espinhosa É o espinho doce de seu caule Que punge o macio coração Fere, sangra, deita em lágrimas. Lágrimas de Dor Lágrimas de Emoção. Esperava que o adeus tivesse fim Mas do adeus nunca fui amigo Então levei o 'até logo' comigo Que bom se todo adeus terminasse assim. Coração afanado, espera espinhosa É o espinho doce de seu caule Que punge o macio coração Febre, cansa, ri em convulsão. Risos de ardor Risos de tesão. Esperava que o adeus tivesse fim Ah que bom seria Se todo adeus que tu me destes Fosse como és, Tu, gentil e inocente, com teus braços em mim.

Animo

No raro momento, belo caminho Onde céu e terra se abraçam Eu lanço um modesto olhar O perfume verde afaga-me o ser Mistura-se com a pedra dura Árvore seca, água pura. Sou branca cinza Sou preta escura E na morte suave No vento, brisa tranquila Meu coração, perdura

Ixé Aûsub Iandê

Ensina-me o que é o amor Sem me aprisionar na escravidão. A partir daí, Todas as músicas fazem sentido.

Da Eterna das Flores

Ainda que existissem mil amores E ainda que os prantos ressoassem No toque uníssono de sofrimento Ainda que só houvesse desalento E que o mundo fosse apenas dores, Jamais estaria fadada Ao pleno ardor do esquecimento Ela sutil, afã e acamada A bela, da eterna das flores. E da eterna das flores Sempre sob a escuridão Naquela esperança que ressurge Criança pura, delicada A recolheria em sua mão. O que a deusa impõe Mãos pequenas e tolas Jamais saberão porque manchar. Ouçam as reconditas harmonias Ouçam os vocalizes de alegrias Começam com sussuros pianíssimos E concluem-se em gritos fortes Fortíssimos! Daquilo que veio do céu O que herdamos de mais belo A música da lira cálida O sinfonia do amor de violoncelo. Morrem homens e mulhere vis Mas a história de amor À história sobrevive E a flor eterna que acha que morre Sempre na esperança revive. Pois tudo que há de vida neste mundo Começa com um ato de amor. Concluí-se num suspiro de saudade Termina nu

Namastê

Eu flutuo pelo mundo de olhos cerrados E tudo quanto vejo, quanto cheiro Todas as coisas que me agraciam o ser Elas não são estranhas para mim. Não me impressiona a beleza afrodisíaca das cachoeiras, Não me assusta a imponência colossal dos desfiladeiros, Não me alegram, nem entristecem, o verde perfume dos arvoredos, O céu luminoso não me traz calma nem pertubação, Menos ainda a noite me traz tormento ou desilusão. No seu vôo sutil, a borboleta eu saúdo com a respiração, A pantera indomável, eu domo com a paz do coração, Estou leve e cambaleante como a tromba do elefante, Eu sou desde a pedra à estrela, som calmo e retumbante. Todas as coisas que me agraciam o ser Elas não me impressionam, Pois me tenho em todas as partes do universo Tanto em vida como em morte. Sou eu do cume ao sopé Sou eu do sul ao norte.

Quando a mais Bela Canção Toca

Teu suave toque Faz o meu amor descer Eu sinto o choque Eu deito, eu paro Meus lábios te envolvem Fazem teu amor crescer. Eu subo e busco o meu véu Eu caio, desço, estou no céu Eu desfaleço, deslizo, desleixe Tuas mãos firmes escalando a montanha Teu toque débil larga-me nas curvas A respiração falha, a vista turva Separa, eu paro, e faço manha. Eu vejo cores que não conheço Eu desconheço o meu lugar Tua unha, teu sangue, meu rosnar Eu te tenho eu me esqueço Eu te explodo eu me explodo Cai Deita Desfaz Desfalece É sono, quero descansar.

Clamor

Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor esperançoso Vem enquanto minha alma Transborda de tristeza. Vem me dar essa paz Joga-me na clareza. Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor esperançoso Vem me derrubar ao sono eterno Deixa-me torpe, emudecida. Cure as minhas cansadas feridas Ó desejada da minha vida Esta noite que cai uma escuridão profunda Eu te desajaria aqui ao meu lado Deitada, em minhas organdis celestes Feliz eu seria se tu me destes. Vem, vem ó querida Vem, atende meu clamor desesperado Transborda minha alma de alegria Enquanto a tristeza ainda deita-se ao meu lado Salva-me desse infeliz drama.