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Olhar-te

No dia 26 de Janeiro os paulistanos que se prezam puderam presenciar um acontecimento muito importante. Não, não falo do primeiro dia após os 457 anos da cidade suja de São Paulo onde eu moro, embora eu a ame sem explicação. Falo do aniversário de dez anos da Cooperifa, o Sarau da periferia que acontece no bar do Zé Batidão, na região da Piraporinha. E, talvez, como comemoração, houve também o lançamento da revista Cooperifa, que registra um pouco da trajetória e dá uma pontinha sobre o que seria a Cooperifa, que em tanto é muito diferente do que quando presenciamos o Sarau. Na Cooperifa podemos ver um exemplo vivo de uma síntese da história que acontece de dentro pra fora. Por anos das nossas vidas empurraram goela abaixo que Dom Pedro I, Pedro Álvares Cabral, os Bandeirantes, e toda essa elite preguiçosa, são os verdadeiros heróis do Brasil, pois foram muito importantes para... bem, nada! Na época a história era uma coisa muito chata. Sempre contaram mal as nossas histórias, por

A Nação

Houve um dia que eu me cansei um pouco da burocracia que envolve o curso de licenciatura. Esse dia foi, de certa forma histórico, só que meus pés não são o limite do mundo, então tanto faz. Acontece que a burocracia do ensino superior para aqueles que buscam a licenciatura é, tão desnecessária, e tão medíocre, que acaba cansando as energias únicas que sobram ao estudante que paga pela sua faculdade, e que deveria se preocupar apenas com o conteúdo do curso. Quem cursa alguma área de licenciatura sabe do que se trata, a extensa lista de disciplinas que despreparam o ânimo do professor para enfrentar um monstro ainda maior e mais feio: a secretaria da educação e o Ministério da Educação. Parece final de Super Sentai! Professores e políticos, em geral, parecem farinha do mesmo saco. Submissos uns aos outros, dependendo de quem tem o interesse mais poderoso do que quem, todos sob a ordem de uma mão mais forte, que é a do Corporativismo. Quero dizer, nos despreparam para desconf

O Carrossel

Enquanto o mundo inteiro não pára por um segundo, enquanto as coisas acontecem porque as pessoas vivem, e não porque algo já esteve escrito, vamos por aí de mãos separadas lutando por uma causa só, mas com a minha percepção do que é correto, ignorando o todo, e juntando diante de mim apenas aquilo que me for conveniente. Pois até mesmo a luta revolucionária, esta que parece já ter manual de instruções de uma causa, junta cabeças que pensam por uma coisa única e jamais por si próprias. Enquanto isso, o altruísmo distante nos faz esquecer da nossa miséria constante. Por mais do quanto tivermos, seremos sempre miseráveis, conformados com nós mesmos e inconformados com os mesmos de nós. O Carrossel Um não pela pessoa Acima de um reflexo perfeito Roda no carrossel perfeito E vaza solidões no centro de si mesmo De um céu estrelado e perfeito. O velho que desce para o mar Encontra um céu azul Cheio de estrelas Longe daqui Cheio de estrelas. Mas no mar das solidõ

A Valsa

Eu só não entendo quando acontece de duas pessoas que se amam tanto não conseguirem se entender de verdade. Eu danço para não racionalizar o sentimento que tanto sinto, e ofereço uma dança a quem sinta que não possa entender as confusões tão óbvias dos nossos corações. Valsa, foi-se o tempo em que era exclusividade. Até os mais pobres de espírito têm o direito de amar. A Valsa Dois para lá Dois para cá Dois que se cruzam E jamais se apagam da memória. Um de paixões meteóricas Um de dolorosas retóricas Dois para lá Dois para cá E no três quartos Sobra um quarto vazio E de compasso errado Dois para cá em harmonia Dois para lá que vão embora Duas idéias conjuntas Duas almas perdidas Duas longas conversas Duas para sempre feridas. Dois beijos de desculpas Duas paixões duas nucas Duas mãos que se apertam Dois corações que se expremem Uma banda toca enquanto acertam Se bramirem, alvoraçarem enquanto tremem. Duas conversas ine

Carta Aberta Ao Conservador

Não consigo entender de onde vem o ranço que a classe média sente por saber que há pessoas que recebem um benefício do governo, e que é por direito delas, algo que está, ainda que mal difundido, previsto na Constituição. Por vias de buscar este entendimento, escrevo-lhe uma carta aberta, querido conservador. Aqueles que são beneficiados pelas bolsas assistencialistas não são os ditos excessivamente pintados nas anti-propagandas da oposição, tipos que se beneficiam do dinheiro dos impostos, e que abusam por achar que não tem que trabalhar. Sim, há a realidade de pessoas que optam por viver apenas da bolsa do que de oportunidades de trabalho, mas para muita gente isso é uma coisa difícil de compreender. Para você, cidadão, que está privilegiado em um ambiente de trabalho confortável e recebe um salário que pode ao menos ostentar a sua futilidade, esta compreensão só será atingida quando a sua perspectiva se ampliar para além do refeitório da sua empresa e de seu restrito círculo de am

Bóia Fria e Canto Só

Eu conheço o caminho que escolhi. Tenho consciência de onde estou pisando. Eu já sei do cheiro e da dureza desta terra. Serei constantemente solitário no meu pensamento. A busca pela verdade não é amiga de todas. E sei que o amigo de todo mundo não é amigo da verdade, mas, amigo de uma verdade disfarçada, ou um sedutor da verossimilhança. Tomar partido é não mediar, não estar em cima do muro, sei disso. É que não consigo me calar diante do que está errado, ainda que eu não tenha clareza do que estou dizendo. Sou cuidadoso nas palavras, mas jamais nas críticas que estão ao meu alcance. Jamais falarei das terras que desconheço, porque o rebote seria fatal para mim. Já sei que a dor do ego é grande demais para quem defende um pensamento, e que é certo, porém doloroso, que voltarei atrás se algum dia perceber que estou errado. Ainda assim, estou certo em dizer que enquanto pensar, pensarei solitariamente. Bóia-Fria e Canto Só Não sei o que é arar uma terra E não sei

Fanfarra (ou matraca) da Derrota

Olá de novo! Eis que venho falar de um dos meus poemas que mais causou polêmica entre os meus amigos, familiares, conhecidos e poucos leitores. Primeiro gostaria de falar das origens do título. Afinal, por que Fanfarra (ou matraca) da Derrota? Fanfarra é, usualmente, um toque de trombeta, que tem por intuito anunciar alguma coisa. No período onde as monarquias imperavam, ou melhor, posso dizer a grosso modo, no período medieval, a Fanfarra era tocada todas as vezes que um tipo nobre ou real estava chegando em algum lugar público (palácio, castelo, igreja, praça - muito duvidosa para esta última, mas voilá ). Então venho com uma fanfarra anunciar a derrota. E de onde raios vem matraca? A utilidade é um pouco mais abrasileirada. Matraca é um termo que eu conheci lendo o conto O Alienista de Machado de Assis, onde em um momento, um homem chega com uma matraca (aquela mesma do programa Chaves) para anunciar uma notícia de interesse público. Geralmente ele aparece em uma praça, gira a

Uma Bolsa

Duas jovens universitárias caminhavam pela alameda quando uma delas avistou um morador de rua que andava cambaleante, praguejando para o nada. - Depressa, deixa eu esconder minha carteira – disse a primeira. - Para que? – enviesou a segunda. - Oras, não está vendo ali o bêbado? Ele pode querer nos roubar. - Pode querer nos roubar? – fez a segunda jovem, em um tom de pergunta retórica. - É claro oras, eu não confio nesses bêbados de rua. - Eu não confio nesses sóbrios de rua mas isso não é motivo pra eu andar com medo. - É porque você nunca foi roubada por um deles. - Aquele ali já te roubou alguma vez? - Claro que não né! Mas nunca se sabe, é bom não dar confiança demais. - Mas ele sequer parou aqui perto. O homem está lá longe, nem dando bola pra gente. - Que seja, vamos só pass

Sob Poder

"As palavras têm poder." Que coisa, depois de muito pensar que isso era uma grande besteira, passei a concordar com a expressão popular. As palavras realmente têm poder. Na última aula de Literatura Brasileira, o professor Valfrides falava entusiasmado sobre a obra de João Cabral de Melo Neto, e foi que ele soltou a máxima dita por Lygia Fagundes Telles, definindo a diferença da palavra em prosa e da palavra em poesia: "na poesia, a palavra é gorda." Excelente! Palavra gorda, adorei a expressão! Quer dizer que com o mínimo de palavras, deve-se traduzir o máximo de imagens. Palavras representam imagens. Com pouco se diz muito, na poesia. Talvez por isso o verborrágico e o diletante soem tão insossos. É como se fartar de arroz branco sem sal. Eca! Mas muito além disso, a palavra tem poder sim! Já vi muitos por aí concordarem e rasgarem a seda para poetas prosadores do nosso jornalismo diário, onde com uma simples coluna conseguem nos dar um completo vislu

Diazepam

A sociedade brasileira se equivoca. Não quero delimitar um grupo, pois hoje, todos se equivocam. O caos social impera, e isso é favorável a poucos, terrível para a maioria, pois não temos uma unidade. O que antes poderia ser motivo de poesia e admiração, hoje é um grave fator para o impasse que vivemos. Nossa diversidade cultural e étnica já não me encanta mais, ao contrário, me assusta. Psicólogos admitem que a crise é favorável à mudança. Se as relações sociais se dão através do contato de uma pessoa com outra pessoa, então passemos a tratar o Estado como um corpo vivo, e não mais como uma idéia. Tratemos de enxergar que o Estado, que serve à sociedade (e não o contrário, como ocorre em nosso fascismo mental disfarçado de democracia) está sofrendo com uma doença horrível. Nossas células estão desordenadas, entrando em choque constante. Uma vez divididos, há o impasse, e havendo o impasse, perde-se a perspectiva. Caímos no mal estar da depressão coletiva. Falta esperança, e falta